No começo da era 16 Bits a Nintendo manipulava a maioria das grandes desenvolvedoras com contratos de exclusividade de games para as suas plataformas, fato que prejudicava bastante a Sega e o seu Mega Drive. Felizmente durante os anos 90 esse monopólio acabou e games que antes eram vistos apenas nos consoles da Nintendo, começaram a sair no 16 Bits da Sega, sendo “Castlevania: Bloodlines” um desses títulos.

Em 1994 os fãs do Mega Drive finalmente contavam com um jogo inédito e exclusivo da série Castlevania em seu console, trazendo algumas novidades interessantes.

Para começar, o título apresenta um nível de violência e sangue bem maior do que os jogos da Nintendo (que era conhecida por suas exigências de censura). O inimigo aqui não é apenas o Drácula, mas também sua sobrinha que deseja ressuscitá-lo. Há dois personagens para serem escolhidos e os ambientes e cenários não se passam apenas nas terras do Conde Drácula, mas por várias partes da Europa.

Boodlines teve três versões lançadas, a americana, japonesa e europeia, que apresentam algumas diferenças entre si. No Japão teve o nome de “Vampire Killer” e na Europa, mais conservadora, foi trocado o “Bloodlines” por “The New Generation”. A única diferença na versão japonesa é que a aparência de Eric Lecarde era mais afeminada (algo normal para eles), enquanto nos EUA mudaram para uma feição mais “bad boy” e máscula.

A versão europeia foi a única que sofreu censuras. Na tela título, além do nome, o sangue que pinga no chão foi mudado para água (que nem pinga). Uma fonte da quinta fase, que jorra sangue, também foi mudada para água. Alguns zumbis de cor avermelhada foram trocados por cor verde e Eric ao morrer não era empalado por sua lança. Há mais algumas diferenças, como localização de inimigos e uma dificuldade mais moderada, já que a versão americana é considerada bem difícil.

“Castlevania Bloodlines” é um jogo digno da série e que faz bonito no console da Sega. Venha conosco e conheça melhor esse clássico, que possui uma narrativa que mistura ficção e fatos históricos que marcaram o mundo.

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Matadores de Vampiros

O game conta com uma abertura bem bacana que situa o jogador no ano de 1917. Após a última derrota de Drácula, em 1897, uma feiticeira praticante de magia negra conhecida como Drolta Tzuentes acaba revivendo a condessa Elizabeth Bartley, sobrinha de ninguém menos do que o próprio lorde dos vampiros.

Com planos de trazer novamente a esse mundo o Príncipe das Trevas, ela inicia a Primeira Guerra Mundial em 1914, matando os descendentes da coroa austríaca – atentado esse que realmente iniciou a guerra em nossa história. O plano era conseguir através da guerra, milhares de mortes e almas suficientes para ressuscitar Drácula, o que aconteceu em 1917.

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A Condessa Elizabeth Bartley, sobrinha de Drácula

Mas, para acabar com a festa da condessa, surgem dois destemidos caçadores de vampiros para impedir os seus planos maléficos: John Morris, descendente dos Belmont e o atual possuidor do lendário chicote “Vampire Killer”; e seu amigo de infância Eric Lecard, que teve sua amada transformada em vampira pela condessa Bartley. O que aconteceu com ela não é bem definido, mas provavelmente foi morta pelas mãos de Lecard, que parte então atrás da condessa por vingança.

Eric usa como arma a “Lança de Alucard” (que aparece na versão de Symphony of the Night do Sega Saturn), uma lança mágica que foi dada pelo próprio Alucard para ele – isso pode ser visto em “Castlevania: Judgment” do Wii, que se passa 10 anos antes dos eventos de Bloodlines. Eric também faz uma participação como personagem NPC de “Castlevania: Portrait of Ruin” do portátil DS, que se passa no ano de 1944. Algumas pessoas especulam que Eric seja da linhagem de Alucard, mas isso nunca foi realmente comprovado.

Assim a dupla precisar atravessar a Europa até chegar às ruínas do Castelo da Condessa para impedir a ressurreição do seu tio. Os dois personagens são bem diferentes entre si, sendo que Eric possui ataques mais variados com a sua lança.

É interessante ver como o personagem de Eric ganhou um certo status na cronologia da série, já aparecendo em outros dois games Castlevania além de Bloodlines. Algo curioso com John Morris que pode ser notado no game é que ele usa o chicote com a mão esquerda, junto com apenas outros dois personagens da série, Sonia Belmont e seu filho Jonathan Morris, que é o personagem principal de “Castlevania: Portrait of Ruin”.

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A Condessa Sangrenta

Também é interessante perceber que a história de Bloodlines tem diversas referências a obra de Bram Stoker, como o fato de John Morris ser filho de Quincey Morris, um dos personagens do livro. É uma espécie de continuação paralela da história de Bram Stoker.

Já a personagem Condessa Bartley foi inspirada na figura histórica da Condessa Elizabeth Bathory, que nasceu em 1560 e entrou para a história por uma série de crimes hediondos e cruéis que teria cometido, vinculados com sua obsessão pela beleza – como matar jovens virgens e banhar-se em seu sangue para manter a juventude e beleza. Dizem que ela tinha envolvimento no campo da alquimia, feitiçaria e bruxaria, e  ficou conhecida como “A Condessa Sangrenta” e “A Condessa Drácula“. Bem apropriado não?

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retrato recentemente encontrado da sádica psicótica Elizabeth Bathory

Bathory ainda serviu de inspiração para a criação da Condessa Elizabeth, personagem da 5ª temporada do seriado “American Horror Story: Hotel”, interpretada por Lady Gaga e papel que lhe rendeu um Globo de Ouro em 2016. No game, a condessa foi ressuscitada pela feiticeira Drolta Tzuentes, personagem inspirada em Dorothea Szentos, uma velha governanta e cúmplice de Bathory que ajudava em seus crimes e depravações.

O game ainda traz referência da morte de Franz Ferdinand (não, não é a banda!) da Áustria. Ele morreu assassinado, junto com a sua esposa Sofia, Duquesa de Hohenberg, em Sarajevo, na Bósnia, em 28 de Junho de 1914. Era sobrinho de Francisco José, imperador do Império Áustro-Húngaro. Herdeiro do trono em 1896 após uma sucessão de mortes na família Habsburgo, seu assassinato, cometido pelo extremista Gavrilo Princip, membro de elite do grupo terrorista “Mão Negra” (que no game é sugerido que foi manipulado pela sobrinha de Drácula), desencadeou a Primeira Guerra Mundial.

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Castlevania no Megão

Mas chega de história e vamos agora analisar outros aspectos técnicos do games. Bloodlines se apresenta muito bem na tela e é o primeiro game da série a introduzir elementos mais sangrentos, como o seu próprio título já sugere, como a tela de abertura com sangue, a fonte que jorra o precioso líquido vermelho, sangue que pinga dos teto nas fases, animações de algumas mortes de inimigos e alguns detalhes nos cenários ao fundo, dando um toque especial que os jogos anteriores não possuíam.

Alguns cenários apresentam um design artístico bastante inspirado, como as fases que se passam dentro de castelos, com um nível de detalhismo muito grande, como as vidraças se espatifando por causa dos uivos do sub-chefe da primeira fase. Outras áreas apresentam alguns efeitos especiais visuais incríveis, como a torre que se balança na terceira fase e as animações dos personagens, que também estão bem detalhadas.

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Os inimigos, parte importante de um game Castlevania, também estão muito bem representados, com as já clássicas caveiras/esqueletos, zumbis, cabeças de medusa, gárgulas e outras criaturas medonhas, com destaque para os sub-chefes e chefões que oferecem um alto grau de desafio aos jogadores.

A primeira fase, dentro das ruínas do Castelo de Drácula, inclusive lembra muito a primeira fase de “Symphony of the Night” e do primeiro Castlevania para NES (depois refeito no SNES). Os gráficos não se apresentam de uma maneira mais dark e gótica, como na maioria dos outros jogos, mas com cenários mais coloridos do que de costume.

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A aventura é composta por seis fases divididas em várias sub-fases, que se passam por pontos da Europa, como a Romênia, a Torre de Pisa na Itália, o Templo Atlantis na Grécia, passando ainda por Alemanha, França e a última fase, Inglaterra. Os níveis são longos e a dificuldade é bastante alta, não chega a ser o mais difícil da série, mas também não é moleza. Os cenários mudam conforme o personagem que você está usando, resultando em um fator replay obrigatório. São duas opções de dificuldade (easy e normal) e zerando o jogo é possível acessar o modo Expert.

A jogabilidade do game é bem rápida e não apresenta slowdowns, que se desenvolve tanto na horizontal como na vertical, com controles precisos e uma fácil movimentação dos personagens na tela. John Morris usa o chicote como arma, já no estilo tradicional da série, podendo chicotear para cima ou para baixo, e ainda prender o chicote no teto e assim atravessar longos precipícios. Já Eric Lecard pode atacar em todas as direções com a sua lança (menos quando salta) e é capaz de realizar longos saltos com a ajuda da lança, alcançando trajetos que seriam impossíveis para John Morris. Apertando o ataque e rapidamente a direção oposta faz com que Eric gire sua lança retalhando ou repelindo ataques inimigos a curta distância.

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Ambos os personagens podem coletar upgrades para suas armas, aumentando sua força em até quatro níveis. O chicote de Morris em seu nível máximo se torna um raio de energia e a lança de Eric começar a emitir uma energia verde de sua ponta e seus ataques ficam mais poderosos. Porém se forem atingidos, perdem instantaneamente esse upgrade. Os itens especiais estão de volta, você pode usar o machado para acertar inimigos que estão no alto, água benta para alvos no chão e o bumerangue para ataques à distância. Também é possível usar magias extras que acerta o que estiver na tela.

A trilha sonora é muito boa e segue o padrão clássico da série, com composições no estilo gótico e músicas bem variadas, algumas bem sinistras, outras mais enérgicas, que se encaixam perfeitamente com os cenários e fases do jogo. “Castlevania Bloodlines” marca também a estreia da talentosa compositora Michiru Yamane na série Castlevania, que três anos mais tarde lançaria sua obra-prima na fantástica trilha sonora de “Symphony of the Night”.

Castlevania: Bloodlines” é com certeza um jogo digno da clássica franquia e um dos melhores jogos do Mega Drive. Apresentou novos elementos como dois personagens selecionáveis, bastante sangue e cenários que se passam por toda a Europa. Tudo isso sem perder a sua essência e marcas registradas, como os inimigos clássicos e a mecânica típica da série. Apresenta excelentes músicas, bons gráficos e um alto desafio. Um título mais do que recomendado para você fã do Mega Drive ou da série Castlevania.

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