Estamos de volta com mais uma entrevista especial, desta vez conversamos com Maicon Barbosa, um gamer paulista super fã de videogames, incluindo claro, os saudosos sistemas da Sega/Tetoy.

Nosso amigo aqui inclusive realizou o sonho de muitos gamers da geração anos 80/90: montou a sua própria locadora de games em casa! Quem viveu aquela época certamente lembra com carinho e nostalgia a espera pelo fim de semana (por que no meio da semana a mãe brigava e mandava estudar) para alugar dois jogos ou mais para só devolver na segunda-feira – exceto lançamentos, que valiam apenas por um dia!

Muito legal, não é? Conheça mais sobre o Maicon e de sua história com games em nossa entrevista abaixo:

Olá Maicon, comece fazendo sua apresentação pessoal para os nossos leitores te conhecerem melhor.

Me chamo Maicon, tenho 33 anos, trabalho com games há exatos 13 anos, minha grande paixão. Em 2015, com ideia do Sr. Stefano, presidente do conselho da Tectoy, criei o Sega Club no Facebook, o qual ajudo até hoje.

Conte como começou a sua vida gamer, os consoles e jogos que mais te marcaram e por quê?

No Final dos anos 80, um presente me foi dado, o Dynavision 1, compatível com cartuchos de Atari 2600, nascia ali uma nova paixão: Videogame! Com o passar dos anos, seus bits aumentaram, Nintendo, Master System, Mega Drive, Super Nintendo, este foi o que mais me marcou em meados da década de 90, 3DO, Sega Saturn, Playstation 1, bons tempos que não voltam mais. Em 1994 vi na vitrine de um shopping, três Mega Drive 3 da Tectoy ligados, e todos estavam com o Sonic 2, nunca irei esquecer deste dia, e o meu padrasto comprou para o filho dele, ver o console novo, sendo aberto pela primeira vez, aquele cheiro de novo, não tem como se esquecer, aqueles vários panfletos, manuais, pôster, que iam junto com o aparelho também marcou e claro, o jogo que mais me marcou foi o Sonic 2, com aquelas músicas inesquecíveis, ótimos gráficos e diversão acima de tudo.

E a vida de colecionador, como ela começou e o que faz parte dela atualmente?

Em 2003, mais um presente, este sim, mudaria minha vida, um Atari 2600 Polyvox, para muitos motivos de piada, para mim, motivo de respeito e admiração, despertou em mim um novo hobby, colecionar videogames. De tanto comprar itens pela internet, percebi o quão vasto era este campo, comecei a vender os itens repetidos em um site de leilão coletivo, em pouco tempo descobri um novo talento.

Para mim, o mais valioso são as novas amizades criadas, pois depois que o comprador recebe o item, e o mesmo está conforme descrição, um elo de amizade e confiabilidade é criado entre o vendedor e comprador, muito das vezes chegando ao ponto de comprarem apenas por email e não por intermédio do site de leilão coletivo.

Ao invés de guardar os games em estantes, como a maioria dos colecionadores, você montou uma “locadora” dentro da sua casa – certamente o sonho de muita gente na época em que as locadoras existiam. Conte como surgiu essa ideia e como fez para colocá-la em prática.

A sensação de ir em uma locadora de games nos anos 90 era indescritível, eu contava os dias para chegar a sexta-feira, para poder ir alugar um jogo não lançamento e só devolver na segunda-feira, ou pegar um lançamento no sábado para devolver na segunda, reservar o jogo quando possível, ou quando o jogo não tinha save nem password, aí era complicado, ficava preso ao jogo o final de semana inteiro praticamente, era uma época onde não tínhamos preocupação, nem cobrança a não ser com as notas da escola, reunir os amigos para jogar, ou emprestar/trocar fitas, enfim é uma sensação única, que infelizmente não temos hoje.

Minha filha nasceu ano passado e pensando nela, querendo que ela tenha uma amostra disso, pensei em montar minha própria locadora particular. Para isso, entrei em contato com o dono de uma locadora de games que eu alugava na minha época nos anos 90, ele teve locadora de games por 27 anos, mas desanimou devido a pessoas estarem alugando alguns cartuchos originais e sumindo, não devolvendo mais, usando endereço falso, etc, por isso ele vendeu os jogos e por sorte tinha sobrado algumas prateleiras, as quais eu tive a honra de compra-las, as mesmas que eu passava horas na sexta-feira escolhendo qual jogo levaria para casa.

Assim terminei de montar este ano, no fundo de casa, não é aberta ao público, apenas para amigos e convidados, construí um espaço gamer bem bacana, no térreo tem arcades, no primeiro andar a locadora particular e no segundo andar montei um museu de games e brinquedos dos anos 80.

a pequena Alice, filha de Maicon, e seu primeiro presente da vida: o clássico Master System

Sua filha terá uma herança e tanto então. Quais os planos para ela?

Então, o primero videogame que ela ganhou na vida foi justamente este Master System 1 da Tectoy (foto acima). Mandei ele para São Paulo para revisarem, trocaram slot de cartucho por um novo, trocaram todos os capacitores, deram banho químico na placa mãe para tirar todas impurezas e depois envernizaram a placa para proteger, portanto ela terá um MS 1 funcional por uns 20 anos.

E ela adora ver a TV com jogos dele, nem pisca, já faço de propósito para ela pegar gosto desde pequena. Meus planos para quando ela estiver maior é a gente ir na minha locadora e ela escolher um jogo apenas na sexta-feira, ficar o final de semana e devolver na segunda. Eu tenho as placas originais da locadora escrito “Alugado”, “Reservado”, e caixas preta para colocar o cartucho que você alugava.

Ela pegando paixão por isso, quando eu morrer ela não vai vender, e sim dar sequência a algo que também fez parte da infância dela e com certeza dará muitas lembranças do pai dela.

O que os consoles e games da Sega/Tectoy significam na sua vida? Quais suas melhores recordações?

Significam muito, minha infância está atrelada à marca Tectoy, não só pelos games, mas os melhores brinquedos eletrônicos lançados no final dos anos 80 e anos 90 foram deles. Ir em lojas de época e ver o stand deles, com o Master System instalado, com os controles fixos, para você jogar, os comerciais da TV que passavam, alguns não me saem da cabeça como o Sonic 2 de Master System e eu comentando a respeito do jogo na escola. A logo clássica marcou gerações sem dúvida e sou muito feliz por ter participado disso, além da confiança que a marca passava, se é Tectoy, é bom! Na época sempre dava briga entre os amigos, entre quem tinha Super Nintendo e Mega Drive, amizades acabavam, um defendendo o seu que era melhor. E as propagandas da Tectoy nas revistas de games da época, era muito bacana, hoje tenho muitas revistas antigas de games dos anos 90, uma das coisas que mais gosto é justamente ver as propagandas, inclusive da Playtronic.

Como todo colecionador, você deve ter os seus itens favoritos. Quais são eles e por quê?

Difícil resposta, tenho vários, meu primeiro console o Dynavision 1, Atari 2600 Heavy Sixer completo, lançado em 1977 apenas e fabricado nos USA, o Dynavision 3 que foi meu segundo console, o bacana era que não precisa usar adaptador de 60 pinos ou 72 pinos, isso o deixava bem prático, sem contar que ele já ia com o cartucho F1 Race e pistola, Master System 1 Tectoy em estado de novo, que foi sorteado no programa do Show da Xuxa em 1990 na promoção de desenhos patrocinado pela Claybom, tenho a documentação que comprova isso e vídeo no youtube do sorteio, por sorte quem ganhou não gostava de videogame, recebeu em sua casa o Master System 1, com óculos 3D e pistola, jogou 1 vez e guardou, depois anunciou na internet e dei sorte de comprar. Mega Drive 1 edição do Alteread Beast, primeira versão nacional, fez história. Super Nintendo, no Nintendo 64 Disk Drive, jogava muito o SimCity sempre fui fã da franquia desde o SimCity 2000 para computadores 486.

Colecionar não é um hobby barato, quais os itens mais caros da sua coleção? 

Não é mesmo, infelizmente a lei da oferta e procura atrapalha bastante, sem contar os especuladores, que inventam preços do além. Eu não tenho vergonha de dizer que já vendi por duas vezes minha coleção, parcialmente, para fazer meus objetivos. A primeira vez vendi 80% dela em 2008 para comprar um terreno e construir a minha casa, depois fui comprando tudo de novo. A segunda foi recente em 2015, vendi parcialmente para construir o fundo, apelidado de “Tripléxi”.

Prefiro não pensar em valores, se não minha esposa se divorcia de mim, mas tem alguns como o computador Apple 512k 100% completo e funcional, dois cartuchos protótipos da Atari, um papel de ação da Atari, que em 1994 valia 500 dólares, hoje não tem valor, mas para quem gosta, coleção completa da revista Atari Age, que apenas membros do Atari Club nos Estados Unidos recebiam, protótipo de um holograma do Atari Cosmos e protótipo funcional do Master System Collection Tectoy – o mais interessante é que ele é na cor branca, no final ele foi lançado na cor preta e a carcaça posterior diferente. Quando estive na Tectoy mostrei a foto dele e perguntei para quem trabalhou no projeto, ele disse que na época o branco estava em evidência por causa do Nintendo Wii. Um console que me deu muito trabalho para conseguir completo em estado de novo foi o videogame Pippin desenvolvido em parceria com a Apple.

Tem algum jogo (s) que você queira muito e até hoje não conseguiu adquirir?

Sim tem, eu tenho ele loose, mas queria ela completo com caixa e manual, o jogo Fire & Ice, lançado exclusivamente pela Tectoy para o Master System, só vi ele completo uma vez e quando fui comprar, compraram antes, se alguém tiver um…

O que você achou da iniciativa da Tectoy de voltar com o Mega Drive?

Muito bacana, pode ser que eu tenha dado o pontapé inicial. No começo de 2015, eu estava revendendo uma marca americana de produtos retro gamers, muitos irão pensar que é Hyperkin, mas não, ela já era representada aqui pelo meu amigo Leonardo Mangione, e o negócio estava indo muito bem, até que eles perguntaram se eu teria condições de montar um depósito grande no Brasil, com estrutura, para poder aumentar mais ainda as vendas, e eu não tinha condições para isso, então mandei um email para o sr. Stefano Arnhold, presidente do conselho Tectoy, falando sobre a ideia deles pegarem esta representação.

Ele marcou uma reunião comigo, lembro como se fosse hoje, foi dia 10 de março às 10h da manhã, na sala de reuniões da Tectoy, ou seja iria sem querer realizar dois sonhos em um: conhecer a empresa e o próprio sr. Stefano, o qual sempre admirei como profissional.

Pois bem, conversamos tudo e depois ele me disse “não, não iremos representá-los aqui, mas se você está vendendo bem e acha que tem mercado para isso, por que não fabricamos aqui mesmo?” Eu fiquei mais empolgado ainda, e disse, “hoje a tarde tenho reunião com o conselho e vou passar a ideia para eles“.

Eu comentei também que a fanpage da Tectoy no Facebook não tinha nenhuma postagem há quase um ano, que deveriam usá-la mais, aí ele deu a ideia de criar a fanpage do Sega Club, para ver o que o pessoal achava, juntar os ex-usuários da marca, que antes eram crianças e hoje adultos, sentir o mercado retrô e provar que tinha mercado – no dia seguinte começou a fanpage do Sega Club.

Trocamos alguns e-mails na semana seguinte e ele propôs à minha empresa um modus operandi, para vender todo o estoque de videogames que eles tinham guardados em Manaus, mas não eram consoles muito antigos, eram consoles fabricados de 2001 a 2008, muitas edições de Mega Drive e Master System, mas ambas com slot para cartuchos que outras versões já não tinham, mas todos lacrados, vendi tudo muito rápido, para o espanto deles.

Depois em 2016 fui convidado pelo sr. Stefano para conhecer dois novos empregados da Tectoy, conversamos muito, falamos sobre um possível Mega Drive edição de 30 anos, como ele seria, eu disse, claro que o mais idêntico possível ao primeiro lançado, os recursos que eu gostaria que ele tivesse, como seria a embalagem, claro que falei o mais idêntico possível com a do Alteread Beast. Eu tinha falado para o controle ser de 6 botões, mas lançaram ele com o de 3 botões, depois achei até melhor, pois ficaria mais idêntico com o Mega Drive Original.

Uma das tarefas do novo Mega Drive, foi conseguir a caixa original da edição do Alteread Beast em melhor estado possível e o console também, para fazer a reprodução, por sorte falei com meu amigo o Flavio de MG mais conhecido como Lima Shinningstar e ele tinha um em absoluto estado de novo, e mandou para gente as fotos, estas tiradas por um profissional.

Alguma consideração final, dicas para quem quer começar a colecionar ou montar a sua própria locadora de games?

Sempre digo, comece pelo o que você goste, foque, sempre tenha foco, no que colecionar, senão, ficará perdido. Eu comecei pelo Atari 2600, consoles, jogos, acessórios, depois que consegui o que queria, aí fui para Atari 5200 e assim por diante. Hoje o que eu mais gosto de colecionar é Master System, então só compro itens de Master System, tenho produtos de outras plataformas, mas tenho apenas o que eu gosto, não tem como ter tudo, alguns até têm, no passado eu era assim, hoje não, meu foco é Master System Tectoy e agora o novo Mega Drive e o que irá sair para ele ;-).

Para montar sua locadora não tem segredo, tenha sempre os jogos que você gosta, podem até ser looses, mas pelo menos imprima uma capa do jogo e coloque o cartucho dentro de uma caixa, assim você terá quase a mesma sensação de quando ia na locadora, tenha mais de uma TV, para mais pessoas poderem jogar, e acima de colecionar, o mais legal são as novas amizades, muita coisa que consegui comprar foram através de amigos ou de vendedores que se tornaram amigos meus.