São 40 anos de estrada que marcam o lendário Atari 2600, e como toda boa história tem um começo, essa não é diferente e tem início com o nome Nollan Key Bushnell, um gerente de parque de diversões em Utah, EUA, local onde teve seu primeiro contato direto com a área de fliperamas (pinball e outras máquinas analógicas). Foi quando ele percebeu que esse forma de entretenimento tinha um futuro promissor, isso ainda no final dos anos 60. Formado em engenharia elétrica, ele resolveu seguir sua intuição e desenvolveu então o game “Computer Space“, considerado um dos primeiros fliperamas eletrônicos do mundo – e inspirado no jogo Spacewar!, um dos primeiros jogos de computador de 1962.

o visual belo e arrojado do gabinete do arcade Computer Space em propaganda da época

O jogo não fez o sucesso esperado, já que os adolescentes da época ainda preferiam as máquinas de pinball. No entanto, Bushnell não desistiu da ideia e criou a sua própria empresa, junto com o sócio Ted Dabney, e em 1972 surgia a Atarinome baseado em um movimento do jogo de mesa japonês chamado Go – que se tornaria uma das mais importantes e emblemáticas empresas de videogames da história.

Para desenvolver a primeira máquina da Atari foi contratado Allan Alcorn, que criou o jogo Pong sob as orientações de Bushnell, que se tornou um sucesso avassalador e colocou a empresa desconhecida nos holofotes da fama do dia para a noite.

Nolan Bushnell e um arcade de Pong

O jogo era “inspirado” em outro já existente, o game Tennis do videogame caseiro Magnavox Odissey – o que resultou em processos nos tribunais por Ralph Baer, o criador do Magnavox Odyssey. A Atari fez um acordo de licença do jogo no valor de US$ 700 mil, evitando assim uma multa de US$ 1,5 bilhão.

Em meados dos anos 70 a Atari já tinha alcançado grande popularidade nos EUA, quando em 1976 resolveu investir no mercado de videogames caseiros. Após recusar uma oferta de sociedade de um jovem Steve Jobs (que anos antes havia pedido emprego na Atari) para uma companhia que estava montando (a Apple), Bushnell lançou no mercado em 1977 o Atari VCS (Video Computer System, depois rebatizado de Atari 2600).

Neste mesmo período, a Atari foi vendida para a Warner Communications (hoje Time Warner), um acordo que permitiu a fabricação em massa do console, e Bushnell passou a dividir a presidência da empresa com Ray Kassar, executivo da Warner.

O videogame foi lançado junto com dois controles e o game “Combat”, além de outros 8 títulos, vendidos separadamente. Em seu primeiro ano o console vendeu bem, mas em 1978 Nolan Bushnell decide deixar a Atari por divergências com a nova diretoria da Warner.

No início dos anos 80 o Atari 2600 era um sucesso comercial, com versões caseiras de populares jogos de fliperama como “Pac-man“, “Asteroids“, “Space Invaders” e “Frogger” que garantiam o domínio do mercado e até possuir uma das maiores divisões de Pesquisa e Desenvolvimento do Vale do Silício, na Califórnia.

versões caseiras de clássicos dos fliperamas garantiram sucesso do Atari 2600 no final dos anos 70 e início dos 80

Mas como tudo que sobe, um dia tem que descer,  com a Atari não foi diferente. Rixas entre os departamentos de programação e comercial explodem dentro da empresa, diversas reformulações internas acontecem e a inevitável queda ocorre na crise dos jogos eletrônicos de 1983 nos EUA, após várias decisões erradas de mercado, entre elas o lançamento do jogo “E.T.”, considerado um dos maiores fracassos da história.

Tão rápido quanto chegou ao topo, a empresa começou a perder milhares de dólares e a Warner colocou suas ações para vender em 1984, quando foram compradas por Jack Tramiel, fundador da Commodore International – empresa conhecida pelo popular computador doméstico Commodore 64 (1982), iniciando assim uma nova administração à Atari.

Mas se 1983 foi um ano terrível para os norte-americanos, aqui no Brasil foi o início da febre pelos videogames, com o lançamento oficial do Atari 2600 pelas mãos da Polyvox, uma empresa pertencente ao grupo Gradiente. Milhares de consoles e jogos chegaram ao mercado nacional, tudo bonitinho com caixa e manual, seguindo o padrão americano.

Assim como tinha acontecido anos antes nos EUA, o Atari 2600 virou um fenômeno de vendas no Brasil, algo que durou até cerca de 1987, quando os microcomputadores com capacidades gráficas e sonoras superiores aos do Atari se tornaram mais populares no país, além da presença de videogames mais modernos como o NES e claro, o nosso queridão Master System.

Atari 2600 da Polyvox – uma caixa que deve trazer lembranças para muitos brasileiros

Mas o que aconteceu com Nolan Bushnell? Em 1977, quando ainda trabalhava na Atari, ele fundou a “Chuck E. Cheese’s Pizza Time”, um lugar onde as crianças (e clientes em geral) podiam comer uma pizza e jogar videogames (na época uma forma de propaganda para o Atari 2600), fliperamas, animatronics (tinha um rato-robô como mascote) e brinquedos variados.

Porém, devido à crise dos videogames de 1983, a rede de restaurantes também começou a dar prejuízo, e Bushnell a vendeu em 1984 para o seu principal rival, a Showbiz Pizza Time (fundada por um ex-sócio de Bushnell e que utilizava as mesmas ideias). Atualmente há mais de 500 restaurantes da “Chuck E. Cheese’s” espalhadas em vários países – mas nenhuma no Brasil ainda.

Nos anos decorrentes Bushnell se dedicou à sua empresa Catalyst Technologies, fundada em 1981 e que era voltada no investimento em software e entretenimentos de tecnologia. A empresa fechou em 1986.

Durante a década de 90 ele se tornou consultor de uma pequena desenvolvedora de games chamada Aristo International (depois rebatizada de PlayNet), que desenvolveram tecnologia touch para sistemas de fliperama e jukeboxes digitais, com músicas retiradas da internet. A empresa foi dissolvida em 1997.

Em 2000 o empresário voltou ao ramo dos “restaurantes com games eletrônicos” com a empresa uWink, que durou até 2010, quando fechou as portas.

Nolan Bushnell e o mascote do Chuck E. Cheese’s

Até os dias de hoje com 74 anos, Nolan Bushnell é um empresário bastante ativo no cenário de tecnologia, já tendo fundado ou participado de mais de 20 negócios empresariais. Mas independente do seu sucesso ou não em outros ramos, ele certamente cravou o seu nome na história dos videogames quando criou a empresa e o sistema (que está de volta com 101 jogos em nosso Atari Flashback 7) que um dia dominaram o mercado e o lar de milhões de crianças e adultos, especialmente de brasileiros, que  guardarão com carinho todas as emoções vividas naquela época para sempre.

Por fim, quem quiser conhecer ou ouvir as histórias do próprio Bushnell, ele é presença garantida no evento Brasil Game Show 2017, comemorando os 40 anos de lançamento do console e que acontece em São Paulo entre os dias 11 e 15 de outubro – clique aqui para mais detalhes.