Hoje em dia, graças ao avanço tecnológico e à globalização, os mais variados produtos seguem uma padronização massificada nos diferentes mercados mundiais, o que claro inclui os jogos de videogames.

Um mesmo jogo, por exemplo, pode ser lançado em diferentes países de forma simultânea, ou com poucos dias de diferença, alterando-se apenas a sua localização para o idioma desejado – em alguns casos, o próprio jogo já oferece várias opções de idiomas.

Mas lá nos “jurássicos” anos 80/90 as coisas eram bem diferentes. Cada mercado tinha grandes diferenças e variações culturais entre si, sem as opções da “informação instantânea” que a internet nos proporciona hoje.

Naquela época o Japão era o principal fornecedor de games, sendo que muitos desses títulos tinham várias referências à cultura oriental, que não era muito difundida no ocidente.

Além de levar meses para chegar ao outro lado do mundo, vários jogos sofriam “adaptações” para o público ocidental, em especial os EUA (o segundo maior mercado de games da época), fosse nas capas das caixas, nos títulos, manuais e cartuchos, nomes de personagens e até mesmo na própria narrativa dentro dos games.

É por isso que você encontra capas de jogos orientais totalmente diferentes das ocidentais, já que os japoneses preferiam o estilo mangá/anime “fofinho” para representar seus produtos, enquanto os EUA já apelavam para o visual “real”, “heroico” e “macho man”. Mesmo o nome de alguns games sofriam alterações, fosse por censura, adaptação para o mercado, frescura do responsável pela tradução, ou outro motivo qualquer.

E o Mega Drive não fugiu dessas divergências entre Oriente/Ocidente, sendo algumas com mínimas diferenças e outras mais radicais, chegando ao ponto de certos títulos não serem lançados em outros mercados exceto o Japão, por acharem que não teriam apelo em terras estrangeiras.

Selecionamos aqui alguns títulos onde você pode conferir mudanças nos nomes e capas dos jogos:

The Revenge of Shinobi – The Super Shinobi
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Em 1987 a Sega lançou o arcade “Shinobi” (palavra que também significa ‘ninja’), jogo que ganhou uma adaptação no Master System e que se tornou bem popular, estrelando o ninja Joe Musashi. Em 1989, para promover o seu novo sistema de 16 Bits, a empresa lançou a sequência e para ressaltar que era uma versão “bombada” da original, batizou de “The Super Shinobi”. A estratégia da Sega  era mostrar ao consumidor que o Mega Drive poderia apresentar games do mesmo nível, ou até melhores, que os arcades da época – o que realmente era verdade. Porém em sua versão ocidental os norte-americanos preferiram alterar o título, e a capa, e o jogo ficou conhecido como “The Revenge of Shinobi” – e também para aproveitar o sucesso do filme “Revenge of the Ninja” com Sho Kosugi  fazia no país. Saiba mais sobre o game nesta entrevista com o diretor.

Shinobi III: Return of the Ninja Master – The Super Shinobi II

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Em 1989 a Sega também lançou uma sequência para arcades de Shinobi, chamada de “Shadow Dancer”, que recebeu uma grande versão no Mega Drive em 1990 e foi marketeado pela Sega of America como sequência de “The Revenge of Shinobi”. Porém a Sega sempre viu “Shadow Dancer” como uma “aventura alternativa” – no Japão a história era protagonizada pelo filho de Joe Musashi – e em 1993 resolveu lançar a “verdadeira” sequência, batizada de “The Super Shinobi II”. Já nos EUA, como “Shadow Dancer” foi considerado o segundo game da série – estrelado pelo próprio Joe Musashi, em alteração da narrativa original – o título foi rebatizado para “Shinobi III: Return of the Ninja Master”. Confira algumas curiosidades sobre “The Super Shinobi II” nesta entrevista com o diretor do game.

Streets of Rage – Bare Knuckle

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Batizado originalmente de “D-Swat” – saiba mais dessa história clicando aqui – o projeto foi rebatizado para “Bare Knuckle” e lançado no Mega Drive em 1991, porém foi rebatizado pela diretor de marketing da Sega of America da época, Al Nilsen, com o nome de “Streets of Rage” para o mercado ocidental. Saiba mais detalhes de Bare Knuckle/Streets of Rage lendo a entrevista com o diretor do jogo ou em nossa matéria especial.

Beyond Oasis – The Story of Thor: A Successor of The Light

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Em 1994 a Sega, em parceria com a Ancient, empresa do renomado compositor Yuzo Koshiro, lançou o incrível RPG de ação “The Story of Thor: A Successor of The Light”. A Sega of America ao lançar o jogo em inglês, alterou algumas coisas na narrativa, como o nome de um mundo distante chamado “Thor” (pois é, nada a ver com o Deus do Trovão) e que no ocidente ficou conhecido como “Oasis”, provavelmente apenas para não criar confusão com o deus nórdico e deixar o longo nome original mais curto e fácil de se lembrar. O game está na nossa lista Top 5 – RPGs Imperdíveis do Mega Drive.

Out of This World – Another World

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Criado originalmente com o nome “Another World” pelo desenvolvedor francês Éric Chahi, o jogo foi lançado para o computador Amiga em 1991. Fez um enorme sucesso e ganhou versões em vários sistemas, incluindo o Mega Drive. Em seu lançamento nos EUA resolveram mudar o nome para “Out of This World” para não dar confusão com a popular série de TV “Another World” – mas ironicamente, havia outra série scifi chamada “Out of This World” (conhecida no Brasil como A Extraterrestre).

Castlevania: Bloodlines – Vampire Killer – Castlevania: The New Generation

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Aqui temos um caso de três nomes oficiais diferentes: Vampire Killer no Japão, Castlevania: Bloodlines nos EUA e Brasil e Castlevania: The New Generation na Europa e Austrália – a mudança nestes últimos ocorreu pela censura na palavra “blood” (sangue). O termo ocidental “Castlevania” já vem desde os primeiros games do Nintendinho, que seria a junção dos nomes “Castle” e “Transilvânia” – no Japão, a série é conhecida como Akumajō Dracula, algo como “Castelo Demoníaco do Drácula“. Já o termo “Vampire Killer”, além de ser o nome de um jogo para o sistema MSX (desenvolvido ao mesmo tempo que o primeiro Castlevania para o NES em 1986) é também o nome do poderoso chicote mágico da família Belmont e de uma famosa e clássica música da série. Leia mais sobre “Castlevania: Bloodlines” em nossa matéria especial.

Crusader of Centy – Dawn of the Era: Ragnacënty – Soleil

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Mais um exemplo com três diferentes títulos e inclusive capas também: o RPG de ação é conhecido como “Crusader of Centy” nos EUA/Brasil, “Dawn of the Era: Ragnacënty” no Japão e apenas “Soleil” na Europa. O título também está na nossa lista Top 5 – RPGs Imperdíveis do Mega Drive.

ESWAT: City Under Siege – Cyber Police ESWAT

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Enquanto no Japão o jogo de plataforma e ação manteve o nome original do arcade, “Cyber Police ESWAT”, nos EUA ele sofreu uma pequena alteração: “ESWAT: City Under Siege”. Vale lembrar que o jogo é outro exemplo de uma excelente adaptação arcade-console feito pela Sega, sendo as duas bem diferentes entre si.

The Immortal – Wizard of the Immortal

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Já o clássico cult “The Immortal” fez o caminho contrário: lançado primeiro no ocidente pela Eletronic Arts, chegou ao oriente com o nome de “Wizard of the Immortal”, mas a incrível capa poucas alterações sofreu. O jogo figura nas nossas listas Top 5 – Jogos Obscuros do Mega Drive e Top 10 – Jogos para o Halloween.

Ranger X – Ex-Ranza

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Por fim temos o excelente jogo de mechas e shooter “Ranger X”, que no Japão é mais conhecido pelo nome de “Ex-Ranza”, lançado em 1993.