Ao longo dos anos, a SEGA mostrou-se capaz de fazer quaisquer tipos de jogos, desde puzzles (Columns), passando por jogos de aventura (Sonic The Hedgehog), indo para corrida (OutRun) e até RPG estratégico (Shining Force). Essa versatilidade da empresa se deu por vários motivos, entre eles, a falta de apoio de softhouses em algumas de suas plataformas (como foi o caso do Master System, 32X e Sega Saturn), sendo necessário criar os próprios títulos para suprir a demanda dos consumidores.

Com esta necessidade, uma empresa do tamanho da SEGA precisava criar estúdios para organizar melhor o desenvolvimento de jogos e outros projetos, resultando no aparecimento de estúdios internos famosos, como o AM2 e o Sonic Team. Foi a partir de um destes estúdios, no caso o Team Andromeda, que veio a criação de um fantástico jogo conhecido como Panzer Dragoon.

O título, por si só, é uma daquelas pérolas conhecidas por aqueles que tiveram, ou ainda tem, um Sega Saturn e que o cultuam como uma verdadeira relíquia por aquilo que ele é: uma pequena parte da arte gamística.

Múltiplos ataques

panzer-dragoon-sat-cover-front-eu-43194Mesmo após 21 anos desde seu lançamento, Panzer Dragoon é considerado por muitos gamers e especialistas no assunto, como um trabalho bem elaborado para um console até então desconhecido em terras americanas (1995).

O jogo é uma espécie de “tiros sobre trilhos”, onde o jogador segue um caminho já determinado pela máquina e atira contra os inimigos que aparecem na tela, bem ao estilo de Star Fox (Super Nintendo) ou The House of The Dead (Arcade, Sega Saturn). Mas há um grande diferencial entre estes dois exemplos e Panzer Dragoon: a possibilidade de controlar a visão do personagem em 360 graus com a câmera, podendo atacar os inimigos por quaisquer lados em que estiverem avançando.

Outro elemento interessante é que ao segurar o botão de ataque e mirar nos inimigos, estes ficam marcados para levar uma saraivada de tiros e, assim, serem destruídos mais facilmente.

Os controles são bem simples: atirar, desviar, mexer a câmera, desviar de tiros e matar a maior quantidade possível de monstros que vem em sua direção. Entretanto, não é por conta disto que o Panzer Dragoon pode ser considerado um belo exemplo de jogo muito bem elaborado.

Pequenos detalhes desta pérola

Sabe-se que o Sega Saturn não era lá uma máquina das melhores para se programar jogos em três dimensões. A arquitetura na qual foi colocado o sistema dificultava de maneira monstruosa qualquer desenvolvedora a tirar proveito máximo do console, ainda por cima no começo de sua vida.

O sistema era considerado bem fraco se comparado com o Sony Playstation, pois não oferecia as ferramentas necessárias para a criação de jogos da mesma forma que a plataforma da Sony, que era bem mais simplista. Ainda assim, alguns títulos para o console de 32 bits da SEGA fizeram história justamente neste ponto fraco.

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A beleza em poucos detalhes. Trabalho do Team Andromeda no reflexo das construções, isto no primeiro ano de vida do Sega Saturn

Panzer Dragoon se passa num mundo onde uma civilização dominante está em completo declínio. Suas enormes construções agora afundam nos vastos oceanos do planeta. Antigos templos estão completamente vazios e apesar da cultura e da arquitetura desta civilização desvanecerem, os sistemas de armas que ajudaram a trazer o fim desta civilização estão sendo reativados pelos seus inúmeros inimigos.

Todo o conceito por detrás do jogo, artisticamente falando, tem como base o famoso artista francês Moebius. Entre seus muitos trabalhos, estão os quadrinhos Arzach que influenciaram muito na criação do jogo, bem como a obra Nausicaa of the Valley of the Wind, de Hayao Miyazaki e o filme Duna, de David Lynch – baseado no livro de um dos grandes mestres da Ficção Científica, Frank Herbert – todos muito admirados por um dos criadores de Panzer Dragoon, Manabu Kusunoki. O nível de admiração para com Moebius era tanto que ele foi convidado a fazer parte da produção e desenhou a capa japonesa do jogo.

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Uma das artes de Moebius. Viu alguma semelhança com a imagem inicial? Pois é, foi ele que fez a capa da versão japonesa do título

Com todos estes elementos inerentes na produção do título, o Team Andromeda, mesmo sem conhecer muito o hardware do sistema, conseguiu mostrar de maneira brilhante, em cores e sombras, um pequeno pedaço daquele universo que estava sendo criado ali.

Que se faça a música

Um dos itens de maior destaque desta pequena obra de arte é sua trilha sonora. Todo e qualquer game pode ter personagens marcantes, uma história com uma premissa interessante e uma jogabilidade que permita ao jogador tranquilidade do começo ao fim, mas quando se tem uma trilha sonora bem executada, o título ganha um ar quase que magistral. Panzer Dragoon é uma reunião de muitos destes elementos, tornando-o peça importante da memorabilia do Sega Saturn.

A trilha sonora foi composta por Yoshitaka Azuma que, para o tema de abertura, utilizou nada menos que a Filarmônica Tcheca em uma performance fora do comum. Da primeira até a última fase, todas as músicas são memoráveis ao ponto que, após jogar o título uma ou duas vezes, elas surgem na sua mente poucos segundos após você pegar a capa do jogo.

Seu legado

Um dos primeiros títulos do Sega Saturn, ele recebeu notas altíssimas nas mais diversas publicações da época. Exemplos:

  • EGM – 33,5/40
  • Famitsu – 30/40
  • GamePro – 19/20
  • IGN – 9/10

Trata-se de um daqueles jogos que são ótimos para se conhecer o Sega Saturn. Assim como muitos outros, você também ficará boquiaberto com o que o sistema de 32 bits da SEGA podia oferecer, mesmo em seu início.

Panzer Dragoon envelheceu muito bem e até hoje é reverenciado por uma grande legião de jogadores, o que faz o título digno de se ter numa coleção.