Falar de “Pitfall!” certamente é lidar com a nostalgia de muita gente por aí. Simplesmente um dos maiores clássicos do Atari 2600 e um dos jogos mais populares dos anos 80, lembrado com carinho até hoje.

Foi criado pelo programador David Crane, que foi um dos fundadores da desenvolvedora Activision em 1979, e atualmente uma das maiores empresas de games da indústria – ele saiu de lá em 1986. Ao longo de sua carreira de desenvolvedor, já trabalhou em mais de 100 jogos e atualmente se dedica a publicar games para plataformas móveis.

David Crane, o criador de Pitfall!

A fundação da Activision tem uma história interessante por trás: como a Atari não dava reconhecimento aos programadores dos jogos, alguns funcionários resolveram sair da empresa e fundar a sua própria, que daria os devidos créditos aos game designers.

Nascia então um novo ramo do negócio, as third-party, ou seja, empresas que não estavam diretamente ligadas ao produto primário (no caso o Atari 2600), e sim apenas no desenvolvimento dos jogos. Ironicamente, atualmente como mais de 100 pessoas trabalham na produção de um game, é mais simples colocar o nome da produtora, como nos tempos da Atari – claro que temos algumas exceções, como os Hideo Kojima da vida.

A Activision iniciou sua trilha de sucesso com vários jogos de Atari 2600, como River Raid

Pois bem, “Pitfall!” foi o 11º jogo de David Crane e o seu 7º trabalho lançado pela Activision e levou cerca de três anos para ser finalizado, desde o seu conceito inicial até ao jogo que conhecemos no Atari.

Sentei-me com uma folha de papel em branco e desenhei um boneco no centro. Eu disse: ‘Ok, eu tenho um homenzinho correndo e vamos colocá-lo em um caminho (outras duas linhas desenhadas). Onde está esse caminho? Vamos colocá-lo numa selva (algumas árvores desenhadas). Por que ele está correndo (tesouros e inimigos desenhados para ele coletar e desviar)’. E assim nasceu Pitfall! Todo esse processo levou uns 10 minutos. Cerca de 1.000 horas de programação depois, o jogo estava completo“, disse Crane em entrevistas de como teve a ideia para o jogo, que obviamente teve grande inspiração no filme “Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida”, lançado em 1981.

E todo esse tempo quebrando a cabeça para colocar os conceitos do papel em forma de pixels na tela valeu a pena, pois o jogo alcançou detalhes técnicos inéditos em um sistema de hardware bastante limitado.

Além disso, “Pitfall!” é considerado por muitos como o pai dos jogos de plataforma de progressão lateral, inspirando os side-scrollings (tela rola continuamente para a lateral) que viriam depois, como o clássico “Super Mario Bros”. “Pitfall!” não é um side-scrolling, mas certamente moldou as bases para o gênero.

No game o jogador assume o comando de Pitfall Harry (sim, ele tem um nome e sobrenome!), um aventureiro que está no meio de um labirinto de selva selvagem implacável para encontrar 32 tesouros perdidos.

Mas a tarefa não será fácil, pois para cumprir o objetivo Harry terá apenas 20 minutos para explorar o ambiente e evitar muitos perigos mortais como jacarés, escorpiões, cobras, fogo, poços e troncos rolantes. A ação do game é bem variada e cheia de recursos para o jogador, que pode pular os obstáculos ou evitá-los de outras maneiras como escalando escadas, correr e se abaixar na hora certa, e, em certos lugares, se balançar sob cipós.

São 255 telas com variações de todos os perigos mencionados acima. Algumas telas inclusive possuem um nível inferior, que podem, e devem em alguns casos, ser utilizados para progredir ou alcançar tesouros. Só cuidado para não pegar um caminho errado e dar de cara com uma parede, obrigando o jogador a perder minutos valiosos.

O aventureiro começa com uma pontuação de 2.000 pontos, que pode aumentar ao coletar os tesouros perdidos, ou perder quando tropeçar nos troncos ou se cair em um buraco.

São quatro tipos de tesouros, sendo que cada um pode ser encontrado 8 vezes:

  • Anel de Diamante = 5.000 pontos
  • Barra de Ouro = 4.000 pontos
  • Barra de Prata = 3.000 pontos
  • Saco de Dinheiro = 2.000 pontos

Uma pontuação perfeita de “Pitfall!” é de 114 mil pontos, onde todos os tesouros são coletados sem a perda de um único ponto ao cair em buracos ou tropeçar em troncos. Uma missão que não era fácil há 36 anos e que certamente ainda não é uma tarefa para todos.

Além de toda essa variedade no gameplay, “Pitfall!” também se destaca pela sua competente apresentação audiovisual, com vários elementos facilmente reconhecíveis na tela, boas animações e uso de cores.

Suas trilhas incidentais e feitos sonoros são extremamente simples, porém são tão emblemáticos que permanecem na memória dos fãs até hoje.

Palavras não são suficientes para exprimir verdadeiramente o quão grandioso “Pitfall!” é no mundos dos videogames. Um jogo complexo que marcou toda uma geração e que aproveitou ao máximo o potencial do Atari 2600, oferecendo uma experiência divertida e inesquecível.

Pitfall!” é um dos jogos que já estão inclusos no Atari Flashback 8 e Atari Flashback Portátil, que podem ser adquiridos no site oficial da Tectoy!

*Curiosidades

– Se permanecer apenas na tela superior, será impossível para o jogador pegar todos os tesouros no tempo estipulado. Segundo David Crane, as telas inferiores possuem atalhos que podem pular até três telas em comparação à tela de cima.

– Pitfall! vendeu mais de quatro milhões de unidades, tornando-se o segundo game mais popular do Atari 2600 – o primeiro em número de vendas foi Pac-Man.

– David Crane visitou o Brasil pela primeira vez em 2017, como uma das principais atrações do evento Brasil Game Show 2017.

– Em 1983, Pitfall! foi adaptado como uma série animada de televisão, apresentando Harry, sua sobrinha Rhonda, e seu leão covarde Quickclaw, explorando várias terras em busca de tesouros escondidos. O desenho não teve sucesso e durou apenas uma temporada.

– O jogo teve uma sequência no Atari 2600 chamada “Pitfall II: Lost Caverns”, também desenvolvido por David Crane e lançado em 1984.

– O comercial de “Pitfall!” para o Atari 2600 (vídeo abaixo), contava com a participação de um ainda criança Jack Black.

– Em “Call of Duty: Black Ops 2”, dentro do mapa multiplayer Nuketown 2025, os jogadores podiam invadir uma das casas abertas e jogar games clássicos da Activision, e “Pitfall!” é um deles.

– O Mega Drive, Sega CD e 32X ganharam seu próprio jogo chamado “Pitfall: The Mayan Adventure” em 1994, onde o jogador controla Pitfall Harry Jr., filho do protagonista original.

– A Activision mandava brindes às pessoas que conseguiam fazer 20 mil (ou mais) pontos. Segundo Crane, a empresa foi a primeira desenvolvedora de jogos a oferecer o sistema de Conquistas/Troféus.

– Em 2008 o brasileiro Rodrigo Lopes entrou para o Guinness Book ao atingir a pontuação máxima com 1 minuto e 42 segundos de vantagem sobre a contagem regressiva.

– Ao pegar o último dos 32 tesouros, a tela do jogo congela, o que é considerado o seu final.