Saudações pessoal! Vocês já conferiram aqui em nosso blog duas entrevistas especiais com o Heriberto Martinez, nosso Gerente de Engenharia e com a Andrea Bedricovetchi, que atuou na área e marketing da Tectoy em 1989 e durante os anos 90.

E hoje trazemos mais uma conversa bacana com Julio Vieitez, que atuou como Gerente de Produto Jr. da Tectoy entre os anos de 2000 a 2004. Vem conosco e saiba mais um pouco da história da empresa da perspectiva de quem já trabalhou conosco!

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Julio Vieitez (à esquerda) ao lado de Flávio Marinho (Gerente de Marketing da Tectoy na época) e suas filhas

Olá Julio, acho que podemos começar com você fazendo sua apresentação para os nossos leitores.

Atualmente sou CEO da Level Up, e minha carreira com games começou no início do ano 2000 na Tectoy. Sou apaixonado por jogos, e o console da minha adolescência foi o Mega Drive.

Como você começou a trabalhar na Tectoy? Como era a empresa na época?

Eu estudava administração de empresas no período noturno e meu irmão estudava economia no diurno na mesma faculdade. Eu estava indeciso sobre carreira e um dia ele me disse que tinha um anúncio no mural da faculdade para trabalhar na Tectoy. Era em marketing, uma área que não me interessava muito, mas não tive dúvidas em enviar meu CV. Na época eram cerca de 80 funcionários em São Paulo e o marketing tinha 4 pessoas. Meus primeiros trabalhos foram relacionados a preparar a embalagem e manual de jogos e atender a imprensa.

Você chegou um pouco depois do lançamento do Dreamcast no Brasil (em 20/09/1999), conte para nós como foi trabalhar com o videogame por aqui.

O aparelho era montado em Manaus e na época tinha uma capacidade gráfica bem acima dos consoles da época. Por isso ele se destacava.

Como foi a recepção do Dreamcast pelo público brasileiro? Ele tinha uma grande procura ou os consoles mais antigos ainda eram os preferidos?

Embora ele fosse um sonho de consumo para muitas pessoas, aquele era um momento em que a pirataria era muito forte no Brasil, e isso naturalmente inibia um pouco os consumidores. Aos poucos foram chegando jogos de sucesso e emblemáticos como Crazy Taxi, Jet Grind Radio e Shenmue, o que fez com que a procura aumentasse.

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A forte concorrência do PlayStation 2 e a pirataria eram um problema? Como vocês lidavam com isso?

Na verdade, o console com maior penetração de mercado na época era o Playstation 1, justamente pela pirataria. Quando eu comecei a trabalhar na Tectoy ainda não existia pirataria de Dreamcast, mas eu lembro até hoje do dia em que foi anunciado que hackers conseguiram quebrar o sistema de proteção do console. Daí, em apenas algumas semanas os jogos pirateados começaram a ser comercializados no Brasil. Fizemos diversas ações junto com a ABES (Associação Brasileira da Empresas de Software) para inibir a pirataria. Porém, foi difícil conseguir um resultado eficiente, uma vez que era algo fortemente disseminado naquela época.

Como sabemos, em 2001 a Sega anunciou que ia desenvolver jogos para outras plataformas e que ia descontinuar o Dreamcast. Como foi receber essa notícia e que planos foram feitos a partir desse ponto tanto para o futuro do console, como para a própria empresa?

Na época o presidente da Sega of America era o Peter Moore (atualmente ele é Chief Competition Officer na Eletronic Arts). Algumas semanas antes do anúncio sobre a Sega desenvolver para outras plataformas, ele deu uma entrevista onde disse que o Game Boy era um bom aparelho. Era um sinal de que algo grande mudaria. A Sega não teve um bom resultado com o Saturn e, embora o Dreamcast fosse um grande console, não foi suficiente para reverter a situação da empresa. O que era muito impressionante naquele momento no Brasil era a demanda enorme que ainda existia para o Master System e Mega Drive que vendiam milhares de unidades todos os meses.

Você saberia dizer quantos jogos a Tectoy lançou para o Dreamcast no mercado nacional? Quais foram os mais marcantes?

Não sei exatamente. Lembro que quando cheguei já tinham sido lançados jogos como Blue Stinger e Sonic Adventure. O console teve vários jogos marcantes, como:

· Crazy Taxi
· Resident Evil Code: Veronica
· House of The Dear
· Phantasy Star Online
· Dead or Alive 2
· Shenmue
· Toda a linha de esportes também era muito boa. Eu destacaria o Virtua Tennis

Alguns jogos muito bons como Soul Calibur, Grandia e Ikaruga não chegaram ao Brasil por questões de licenciamento.

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Dos consoles da Sega (Master System, Mega Drive, Sega CD, Game Gear, Saturn e Dreamcast), você tinha algum preferido? Por quê?

Meu console do coração é o Mega Drive. Tenho até hoje meus cartuchos originais. No celular comprei o Shining Force e Phantasy Star II, dois títulos que gosto muito. A lista seria longuíssima, mas joguei bastante Shinobi, Valis III, Ghouls´n Ghosts, Populous, Altered Beast, Dick Tracy, enfim muitos títulos. Eu comprei o Mega logo quando ele foi lançado no Brasil. Eu tinha 12 ou 13 anos na época e joguei muito até meus 17 anos. Os últimos dois títulos que curti bastante foram Shining Force II e Phantasy Star IV.

Hoje tenho uma filha de 3 anos, e quando ela crescer mais um pouco vamos jogar Mega juntos. Também joguei bastante Dreamcast e Master System.

Com consoles mais modernos no mercado, como o Saturn e o Dreamcast, qual foi a estratégia utilizada para os videogames antigos?

Além da presença de consoles novos, existia um outro ponto que dificultava o mercado para o Master e o Mega. Em alguns lugares do país era difícil comprar cartuchos. Então, a direção na época teve uma ideia muito boa, colocar dezenas de jogos na memória. Como a Tectoy tinha uma equipe de engenharia, era algo possível de ser feito.

Um projeto muito importante para mim foi o Mega Drive com 30 jogos na memória. Na época de preparação do console eu estava focado na linha de Video Karaokês da Tectoy, mas fui chamado para tentar ajudar, pois estávamos com dificuldades de encontrar 30 jogos que coubessem na memória do aparelho e tivessem sido desenvolvidos pela Sega. Isso foi em 2002 e não era tão fácil encontrar informações na internet como hoje. Não foi fácil, mas com alguns jogos que não eram tão conhecidos, como Gain Ground e Jewel Master fechamos a lista e nasceu o Super Mega Drive 3.

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Se não me engano, foi na sua época em que foi lançado o Mega Drive com o Show do Milhão do Silvio Santos, não é? Pode nos contar essa história, ele se envolveu com o projeto, você chegou a ter algum contato com ele?

Sim, mas eu não tive contato direto com o produto. Era outra pessoa que cuidava deste produto. Eu trabalhei no desenvolvimento do jogo para PC Qual é a Música e estive no SBT por várias vezes para trabalhar nele. Porém não cheguei a ter contato com o Silvio, infelizmente.

Alguma história interessante ou curiosidade daquela época que gostaria de compartilhar?

Foi muito legal trabalhar na Tectoy. Fiz algumas amizades que duram até hoje e foi uma época muito importante na minha vida. Além disso, foi por estar na Tectoy que acabei vindo trabalhar na Level Up, então meu carinho pela empresa é ainda maior do que quando entrei nela.

Uma coisa bacana que não comentei ainda foi sobre o desenvolvimento de jogos. Eu participei do desenvolvimento de alguns jogos nacionais, como Força Alienígena e Pense Bem. Este foi um trabalho feito junto com a desenvolvedora nacional DevWorks.

Para encerrar, quais são suas melhores lembranças daquela época?

Primeiro foi um sonho realizado de trabalhar no mercado de jogos, e ainda mais na Tectoy. Como foi o início da minha carreira, tenho várias recordações de aprendizados que tive. Com certeza isso foi o mais importante para mim.