Como a maioria dos fãs deve se lembrar, a indústria de videogames nos anos 90 foi marcada pela guerra travada entre Sega e Nintendo e seus respectivos consoles 16 Bits. No final das contas, o grande vencedor foi o consumidor, que ganhava jogos cada vez melhores e com preços mais acessíveis.

A Nintendo dominou o mercado mundial de 8 Bits, mas a Sega chegou decidida a emplacar o Mega Drive no mercado, algo que conseguiu com sucesso no Estados Unidos – o maior mercado de games da época, junto com o Japão.

Mas tal empreitada não foi fácil para o Sega Genesis (como era conhecido o Mega Drive nos EUA), e para isso a Sega of America (SoA) teve que mudar totalmente suas campanhas de Marketing e Publicidade, antes usadas para o Master System, para conquistar o público norte-americano.

Michael Katz era o CEO da SoA quando o Genesis foi lançado em território ianque (após recusa da Atari de distribuir o videogame no país), mas ele permaneceu apenas cerca de um ano no cargo, quando foi substituído pelo lendário Tom Kalinske, que levou o Genesis a patamares que a Sega nunca havia sonhado.

Mas antes de sair, Katz foi responsável por uma das mais célebres campanhas publicitárias da história dos videogames: “Genesis Does What Nintendon’t” – ou traduzindo para o português, “Genesis Faz o que o Nintendo Não Faz”.

propaganda impressa de 3 páginas nas principais revistas de games americanas

Vale lembrar que esse tipo de campanha publicitária agressiva contra os rivais é algo comum nos EUA, mas nem um pouco utilizada no Japão, que possui um mercado competitivo bem mais conservador – Hayao Nakayama, o CEO da Sega do Japão, inclusive não era um dos maiores fãs da campanha “Genesis Does…”, mas acabou aceitando pois estava gerando bons resultados.

As primeiras campanhas publicitárias do Genesis mostravam o console como a máquina perfeita para ter um arcade dentro de casa, e seu principal representante era o game “Altered Beast“, que tinha um herói e monstros com sprites e animações muito maiores e melhores do que qualquer título do rival NES, aproximando-se muito do seu original na casa de fliperamas.

Após essa primeira demonstração do poder do Genesis, a SoA buscou uma maior identificação do seu produto com os consumidores, apostando em jogos com nomes famosos no país (geralmente no campo de esportes), como o campeão de boxe James Buster Douglas (na época um jogo em resposta ao Mike Tyson’s Punch-Out da Nintendo – detalhe que Douglas havia recentemente derrotado o ‘imbatível’ Mike Tyson e a Sega aproveitou para usar isso em suas propagandas), a lenda do futebol americano Joe Montana, o Rei do Pop Michael Jackson, entre outros (vários deles em games da Eletronic Arts, provavelmente a maior parceira da SoA nos anos 90).

achou 3 páginas pouco? Então toma uma propaganda com 4 páginas!

Assim, estava preparado o terreno para campanhas impressas e comerciais de TV de “Genesis Does” em 1989. Além do slogan inteligente, o comercial contava ainda com um jingle (musiquinhas usadas para promover produtos) extremamente pegajoso e um narrador com voz profunda e cativante – eram 30 segundos de pura genialidade publicitária, que realmente chamou a atenção dos consumidores e deu o primeiro impulso para o sucesso do Genesis.

Lembro-me quando a nossa agência de publicidade nos mostrou essa publicidade pela primeira vez, e quando ouvimos a linha ‘Genesis Does What Nintendon’t’, na verdade, quando vimos escrito Nintendo com o apóstrofo e letra T no final, foi tão visualmente emocionante que todos apenas deram uma grande gargalhada“, comentou anos depois Al Nilsen, ex-chefe de Marketing Global da SoA.

Certamente o marketing de “Genesis Does…” fez muitos americanos sonharem com o 16 Bits da Sega, que se tornou um marco na história e abriu as portas para campanhas ainda mais agressivas sob o comando de Tom Kalinske (mas essa é história para outro post!). Graças a ele, a SoA começou a moldar um “perfil” para o console e para si mesma, recebendo um status que era mais “cool” (legal) e descolada, uma combinação perfeita para os adolescentes americanos da geração anos 90, do que a rival que tinha uma imagem de mais conservadora e infantil.

Vários comerciais de “Genesis Does…” com diferentes games foram exibidos na TV americana, abaixo você confere alguns: