Por Johnny Vila

Investindo pesado para tornar o Mega Drive relevante no mercado americano no inicio dos anos 90, a SEGA buscava novas e exclusivas franquias para seu console 16-bit, e com isso, surgia um projeto bem diferente do usual até então: “ToeJam & Earl”.

Idealizado pela dupla Greg Johnson e Mark Voorsanger, o game apresentava dois alienígenas na busca pelos pedaços de sua nave, em uma aventura pela Terra, embalada pelo ritmo do funk (gênero musical popular nos EUA, que mistura Soul, Jazz e Blues).

Com game design peculiar, o titulo acabou agradando a crítica e público, porém não foi, imediatamente, um grande sucesso comercial (os resultados das vendas se consolidariam somente a médio e longo prazo). Para aproveitar o carisma da dupla e com a intenção de tornar a franquia mais popular no mercado, a SEGA imediatamente encomendou uma sequencia, porém determinando uma drástica mudança no escopo do título, que desta vez passaria a ser um game de plataforma. Surgia assim, “Toe Jam & Earl 2: Panic on Funkotron”, um interessante game de aventura em side-scrolling, com elementos únicos, porém bem distante da mecânica que consolidou seu predecessor.

Os anos passaram-se e enquanto ToeJam e Earl adquiriam status de franquia cult, os fãs ansiavam por uma continuação, que apesar de tardia, finalmente começou a ganhar vida no Dreamcast. “ToeJam & Earl III: Mission to Earth” teve um ciclo de desenvolvimento conturbado, em razão do fim precoce do console da SEGA, cogitou-se migrar o projeto para o Nintendo GameCube, mas foi somente no primeiro Xbox que o game finalmente foi concluído.

Novamente, imposições por parte da publisher para tornar o título “mais acessível” ao grande publico e, mais próximo dos títulos de plataforma em 3D lançados na mesma época, acabaram não permitindo que Greg e Mark concretizassem o sonho de criar uma verdadeira sequência para o original.

Após o terceiro game, um novo hiato para a franquia. Greg tentou viabilizar uma versão para Nintendo DS, mas teve dificuldade de encontrar alguma publisher interessada no projeto. Anos mais tarde, com o advento das plataformas de financiamento coletivo, surge a ideia de uma campanha para criar o novo game, e com isso, em março de 2015, com mais de 500 mil dólares arrecadados por quase nove mil fãs, “ToeJam & Earl: Back in the Groove!” finalmente recebe sinal verde para entrar em produção.

Durante o ciclo de desenvolvimento, o jogo chegou a receber apoio da Adult Swin Games, que participaria como publisher (o que acabou não se concretizando posteriormente), foi exibido em diversos eventos de games nos EUA (como a PAX) e passou por beta teste fechado com alguns apoiadores da campanha, e com isso acabou sendo adiado algumas vezes, o que apesar de inicialmente desagradar alguns fãs, foi vital para que Greg e sua equipe lapidassem o game com base no feedback obtido, afinal, o objetivo sempre foi um só: finalmente realizar uma sequência à altura do original. Mas será que eles conseguiram tal façanha? Confira a resposta a seguir:

Back in the Groove!” apresenta história semelhante ao original: ToeJam, Earl, Latisha (uma das protagonistas do terceiro game) e Lewanda estavam curtindo uma viagem espacial, pois ToeJam queria apresentar o planeta Terra à Lewanda, que achou o  planeta um tanto quanto, “tranquilo”. ToeJam resolve proporcionar um pouco de “agito funk” aos terráqueos, e pede para Earl acionar o subwoofer dos alto falantes da nave, porém, o grandão se atrapalha e aciona erroneamente o botão “Gerador de Buraco Negro”, que acaba sugando o planeta Terra inteiro e a nave com nossos heróis. O planeta é então remodelado em diversas “camadas”, e a nave dos protagonistas é despedaçada em dez partes, espalhadas ao longo de tais superfícies. Agora, para voltarem à Funkotron, seu planeta natal, eles terão que explorar novamente o planeta Terra na busca pelas peças da nave.

Com esse plot – por sinal quase idêntico ao do original – o game apresenta a mesma estrutura de design do primeiro game, com os níveis sobrepostos, sendo necessária a exploração dos cenários para obter itens, subir de level, e principalmente, coletar as peças da nave, para então localizar o elevador de cada cenário, que dá acesso ao imediatamente superior (são 25 no total) e continuar a exploração.

O jogo possui um modo com o cenário fixo, onde os levels são sempre os mesmos, mas basta jogar um pouco e será possível jogar o modo aleatório, onde os terrenos são gerados aleatoriamente a cada partida. Inicialmente, o mapa do jogo é oculto, e será exibido com a progressão da exploração, bem como a utilização de itens especiais que revelam partes ainda ocultas.

E falando em itens, eles constituem elemento crucial na gameplay do jogo: representado na forma de caixas de presente em diferentes formas e tamanhos, inicialmente o jogador não sabe o nome de cada um, e terá que utilizar eles para verificar seus efeitos temporários, que podem ser benéficos ou prejudiciais. Como exemplos, existe um que coloca um sapato de molas no protagonista, isso o ajudará a saltar mais alto e em maior distancia, possibilitando chegar a locais antes inacessíveis, ou então fugir rapidamente da investida dos inimigos.

Outro por exemplo, faz o personagem pegar um livro e começar a ler, em seguida ele dorme e fica momentaneamente exposto aos ataques dos vilões. Enfim, a variedade dos presentes é enorme, e eles deverão ser utilizados com sabedoria para enfrentar a verdadeira horda de inimigos que virão pela frente (e por todos os lados na verdade), mas a diversão é garantida com os inusitados efeitos de cada um.

Os inimigos – os terráqueos (Earthlings no original) – também são representados em ampla variedade, com singulares características e em quase todos os casos, extremamente inusitados, indo desde um “inquisidor espanhol”, que faz com que o protagonista seja “tragado” pelas chamas do inferno e jogado para o nível imediatamente anterior, ao tiozão com carrinho de cortar grama que atropela nossos heróis, passando ainda por outras “bizarrices”, como o Trol de Internet, que profere as mais indesejadas besteiras.

Mas nem todos os Earthlings são inimigos, vários servem de apoio para o jogador, quase todos cobrando uma pequena quantia de dinheiro para tal. Como exemplos, o Espertalhão (Wiseman in a Carrotsuit), que “promove” o personagem ao próximo level e também serve para “identificar” presentes ainda não utilizados, a cantora de ópera, que acompanha temporariamente o protagonista como um guarda-costas, eliminando qualquer inimigo com seus “agudos”.

O jogo agrega ainda, diversos elementos dos outros jogos da franquia, como a exploração dos cenários (árvores, arbustos e casas) e a HyperFunk Zone (uma espécie de área bônus) como visto no segundo game, personagens e elementos do terceiro game, além de inserir novos elementos, como um sistema mais complexo de progressão de level do protagonista, servindo para o upgrade em características como energia, inventário, sorte e velocidade. Há ainda personagens jogáveis desbloqueáveis e um sistema de uso de chapéus que conferem novas habilidades. O multiplayer continua sendo uma dos pontos mais divertidos no novo game, afinal, explorar o planeta Terra com os amigos, é ainda mais inusitado e eleva a diversão a do título a novos patamares.

ToeJam & Earl sempre foi um jogo único, diferente de tudo o que o mercado havia proposto até então, bizarro e excêntrico, mas repleto de diversão do início ao fim, é até complicado de ser representado em palavras, mas é um daqueles games que após conferido, dificilmente não irá agradar ao jogador.

E “Back in the Groove!” se propõe a continuar e honrar esse legado, uma missão cumprida com louvor pela equipe de Greg, onde todo o tempo extra no ciclo de desenvolvimento e a liberdade criativa obtida na “escolha” por criar o game no formato indie, possibilitaram que a Humanature Studios conseguisse “moldar” o jogo como sempre almejaram, entregando a cada momento uma verdadeira homenagem não só ao primeiro game, mas a toda a franquia, em um título que apesar de possuir pequenos detalhes a serem resolvidos (alguns bugs e slowdowns na versão de PS4, por exemplo), representa nada mais do que a concretização de um desenvolvedor em entregar aos fãs, o projeto que sempre sonhou.

Nota do redator:

Para mais detalhes sobre a franquia, recomendo a leitura da edição 05 da Revista WarpZone, onde escrevi um especial sobre a série, além de conversar com o seu co-criador, Greg Johnson. Download gratuito no link a seguir: http://warpzone.me/loja/produto/revista-warpzone-5/

E compartilho algumas imagens da minha coleção:

Mais fotos disponíveis em:

https://www.instagram.com/thegamercollector/

https://thegamercollector.wordpress.com