Chega a ser chocante saber que faz dezoito anos que Sonic Adventure foi lançado para o Dreamcast. Além de revolucionário, a aguardada primeira investida tridimensional do azulão também era um dos símbolos da “mega sofisticada” geração 128 bits, com uma resolução “nunca antes vista em um jogo de videogame”, além de ser um dos jogos mais aguardados da época.
Este título é um marco na história do mascote da SEGA. Foi o jogo mais bem sucedido comercialmente do Dreamcast, também foi o primeiro game 3D da saga principal, um dos primeiros títulos lançados para o último console da SEGA, trouxe o visual definitivo para os personagens, além de uma trama surpreendentemente elaborada.
O objetivo da desenvolvedora Sonic Team era mostrar ao mundo toda a potência do videogame mais poderoso da época, além de inovar, expandir, e revolucionar a franquia em todos os pontos para uma experiência realmente empolgante.
Sonic com história elaborada? Claro que sim!
Há três mil anos existia uma tribo próspera chamada Knuckles Clan, os antepassados do Knuckles. A sociedade era liderada por uma bondosa equidna que buscava ensinar seu povoado a viver em harmonia com todos os outros povos.
Ela passou todos os ensinamentos a seu filho, Pachacamac, que herdou a liderança da tribo assim que ela faleceu, e seguiu por um tempo os ensinamentos de sua mãe. Eventualmente, com a misteriosa morte de sua esposa, ele se converteu em um tirano e passou a dominar outros territórios para expandir sua tribo, transformando os membros em soldados de guerra.
A única que tentava impedí-lo era sua filha, Tikal. Quando criança, ela tinha uma grande conexão com a avó, e ouvia todas as suas histórias e conselhos. Uma das histórias que sua avó contava era sobre o misterioso santuário que fica depois da cidade, com um altar e sete pilares, e cada uma possui uma esmeralda em seu topo. Elas é que dão a prosperidade e a força para os equidnas, mas por ser um local sagrado, poucos sabiam de sua existência.
Sabendo que as sete esmeraldas possuem incríveis poderes, Pachacamac começou a cogitar a ideia de invadir o santuário e pegá-las para expandir ainda mais o seu império. Tikal sempre tentava intervir nos planos de seu pai, dizendo que ninguém tem o direito de invadir o solo sagrado de outros povos, mas ele sempre a ignorava.
Como era questão de tempo até seu pai invadir o santuário, ela resolve ir até lá. Ao chegar, ela encontra pequenos seres misteriosos conhecidos como “chao” e resolve fazer amizade com eles, e pouco tempo depois acaba se deparando com o guardião do santuário, uma estranha criatura líquida com incríveis poderes.
Se aproximando da jovem equidna com certa desconfiança, ele percebe o coração puro e bondoso da jovem, e a deixa subir as escadas do santuário, e nesse contexto ela toma conhecimento da Esmeralda Mestre também, uma jóia gigante que pode neutralizar o poder das outras sete.
Naquela noite mesmo, Pachacamac resolve invadir o santuário junto com seus soldados, e em um ato de desespero a sua filha se joga na frente do altar e faz uma última tentativa de conscientizar seu pai de que a ganância iria levá-los a destruição. Mesmo implorando, seu pai ordena a tropa que a tropa invada o santuário, e na correria eles acabam “atropelando” os pequenos Chao e a própria Tikal, que cai no chão inconsciente.
Quando chegam a Esmeralda Mestre, eles se deparam com a misteriosa criatura líquida, que numa tentativa irracional de proteger o santuário e seus amigos, usa o poder das sete esmeraldas e vira um gigantesco dragão, erradicando praticamente toda a Knuckles Clan em poucos minutos. Se ninguém o impedisse, ele iria destruir o mundo inteiro.
Eventualmente Tikal acorda e percebe todo o desastre que está acontecendo. Subindo as escadas em desespero, ela recita um mantra ensinado pela sua avó para selar ela mesma e o monstro de água dentro da Esmeralda Mestre.
Durante o selo, a jóia gigante emanou um brilho que percorreu boa parte do continente, que voou aos céus pela primeira vez, e assim surgiu a lendária Angel Island, a misteriosa ilha que fica escondida atrás das nuvens. Nessa época, os sobreviventes da tribo nomearam a criatura líquida como “Caos”, o deus da destruição, e as jóias sagradas passaram a ser “Esmeraldas do Caos”, justamente por trazerem a destruição e o caos para a humanidade.
Após três mil anos desta tragédia, o malvado cientista Dr.Eggman acabou sabendo de toda essa história ao decifrar os manuscritos dos antigos equidnas. Querendo dominar o mundo mais uma vez, ele ordena um de seus robôs para destruir a Esmeralda Mestre, e assim ele liberta Caos e Tikal. Caberá ao Sonic e seus amigos descobrirem uma forma de derrotar os planos do cientista mais uma vez, e impedir que toda a tragédia do passado aconteça novamente.
Dr.Eggman ou Robotnik?
Sendo um ponto de interrogação até hoje na cabeça de muitos gamers, a explicação para a troca de nome é relativamente simples. No Japão, o vilão da série é chamado de Eggman desde o Sonic 1 do Mega Drive, enquanto que nos Estados Unidos a SEGA americana achou que este nome não teria força no mercado ocidental, alterando para Dr.Ivo Robotnik. O “Ivo” foi escolhido pela pronúncia se assemelhar a palavra”Evil”, que traduzindo para nosso idioma significa “Mal”.
Como Sonic Adventure foi o primeiro jogo inteiramente dublado da série, os japoneses tiveram participação ativa na adaptação do título para o mercado ocidental. Com isso, o diretor Takashi Iizuka achou que esta era uma oportunidade para unificar ambos os conceitos. Desde então, o nome oficial do cientista passou a ser Dr.Robotnik, enquanto Eggman é o apelido que os outros personagens deram e ele também acabou adotando para si.
Um grandioso projeto para um grandioso videogame!
Se tem uma palavra que define Sonic Adventure é “ambição”. A desenvolvedora Sonic Team não poupou esforços em caprichar ao máximo tudo que podiam para uma experiência épica, além de ter a ousadia de modificar diversos elementos estruturais da série para fazer com que os jogos do azulão tomassem um novo rumo.
Os gráficos eram os melhores do gênero plataforma até então, mesmo ficando evidente que o próprio Dreamcast poderia transmitir um visual ainda mais sofisticado em jogos futuros. Já a trilha sonora passou a ser prioritariamente rock´n´roll, mas também há fases com músicas em jazz, pop, hip hop, e outros, com direito a músicas cantadas por bandas.
Outro ponto que merece destaque é a jogabilidade, sendo possível jogar com seis personagens com gameplays distintos, e todos divertidos ao seu modo. O Sonic fica com as fases de velocidade e é o estilo mais próximo dos jogos do Mega Drive com o clássico “corre e pula” nos inimigos, sendo considerado pela maioria das pessoas como as melhores partes do game.
Já o Tails tem um gameplay bem similar, porém você aposta corrida com o azulão; o Knuckles fica com as fases de exploração, onde ele deve procurar por um cenário aberto os pedaços da esmeralda mestre; Amy Rose fica com o estilo mais puro de plataforma, com fases lentas e destruição de inimigos com o martelo; o robô E-102 fica com fases de tiro; e o Big the Cat conta com fases de pesca no melhor estilo Sega Bass Fishing.
O interessante é que todos participam de uma mesma trama, porém cada um possui um próprio ponto de vista sobre os acontecimentos. Isso significa que uma mesma cena onde três personagens interagem é contada de diferentes maneiras dependendo de qual deles você estiver jogando.
Um bom exemplo é uma cena em que o Sonic enfrenta o E-102 Gamma e a Amy Rose interrompe a luta de ambos. Na visão do Sonic, ele corre até o robô, e a Amy se joga na frente dele. Já na visão do Gamma, ele aponta uma arma para o ouriço, e a Amy pede para ele parar; e na visão da Amy, ela pede aos dois para pararem de brigar.
Outro ponto acertado é que os personagens passam pelas mesmas fases, porém em partes diferentes delas, evitando a sensação de mesmice ao passar pelo mesmo lugar. Vale dizer que ao longo da aventura os personagens ganham acessórios que dão novas habilidades, ampliando as possibilidades do gameplay.
No entanto, há alguns pontos negativos que não podem passar batidos. Há um consenso entre os jogadores de que o principal defeito é a inclusão do Big the Cat com fases de pesca no modo principal, já que sua proposta não combina em absolutamente nada com uma aventura de plataforma rápida como os jogos do Sonic devem ser.
Quanto a jogabilidade, há problemas na câmera em alguns momentos, eventualmente pegando ângulos não intuitivos, ou mostrando apenas a parede. Para a maioria dos jogadores isso não chega a incomodar, bastando dar alguns passos ou ajustar a câmera com um dos botões para ela voltar ao normal. Mas para aqueles que querem quebrar seus próprios recordes, isto pode acabar tirando alguns valiosos segundos.Também há bugs que podem levar a mortes injustas, em especial quando o personagem atravessa a parede ou o chão de forma aleatória.
Mas no fim das contas estes defeitos não diminuem o valor deste game. Ele veio para mostrar a capacidade do console mais poderoso da época, é longevo, variado, coloca o visual definitivo para os personagens, possui história excelente, cenas divertidas, vídeos impressionantes, boa jogabilidade, fases memoráveis, trilha sonora empolgante, batalhas épicas e para resumir: a grandiosidade é vista em todos os pontos deste jogo.
Sonic Adventure é a perfeita transição para o mundo 3D!
