Em 17 de julho de 1992 chegava ao mercado o game Ayrton Senna’s Super Monaco GP II, um jogo que marcou o Mega Drive e especialmente os fãs brasileiros, pelo envolvimento do lendário piloto de Fórmula 1.

Ayrton Senna estava no auge de sua carreira, sendo que em 1991 já havia conquistado o tricampeonato mundial de F1 – a sua última grande conquista. Foi quando a TecToy teve a ideia e a iniciativa de aproveitar a popularidade do campeão para se fazer um game, projeto esse que foi levado para a Sega no Japão, e claro, aceita de imediato – Senna era tão famoso lá no oriente como era aqui no Brasil.

Assim nasceu Ayrton Senna’s Super Monaco GP II, que além de contar com a presença do piloto virtualmente, também teve sua colaboração pessoal, ao lado dos desenvolvedores da Sega, sugerindo mudanças para transformá-lo em um dos jogos de corridas mais complexos e divertidos da época.

Ligando os motores!

Senna era uma pessoa perfeccionista, e uma das mudanças que exigiu era que quando os corredores passassem em cima das zebras nas pistas, que o carro não se deteriorasse e perdesse velocidade (como acontecia no jogo anterior).

Segundo ele, os pilotos usavam as zebras para fazer as curvas, e só chegaria ao ponto de estragar o carro se ficassem por muito tempo ali. Pronto, mudança realizada. Outras alterações foram na velocidade máxima, que ultrapassava os 400 Km/h, então reduzida para 340 Km/h; o excesso de placas de sinalização ao lado foram diminuídas e as pistas receberam uma modelagem o mais fiel possível das originais.

Inclusive, era para ter no início de cada corrida comentários falados de Senna sobre cada pista, o que rendeu uma história interessante: o pessoal da Sega pediu pra ele gravar as falas, mas quando chegou na pista de Barcelona ele se negou a fazer, pois era a primeira vez que ela entrava na F1 e ele nunca tinha corrido nela.

Não posso fazer isso. Como eu vou falar de algo que eu não conheço?“, respondeu Senna. Por sorte, ele estava num campeonato na época e ia correr naquela pista na próxima semana, e então se propôs a gravar o comentário logo após a corrida, lá na pista mesmo. Dito e feito, depois de terminada a prova ele fez a gravação logo em seguida, o que demonstra o seu nível de profissionalismo.

Apesar de ter feito todas as gravações, elas não foram incluídas no jogo por falta de espaço. Porém há algumas falas dele e comentários escritos.

Iniciando a carreira de piloto

Em SMGPII o jogador volta no tempo para 1991 para disputar os 16 circuitos dessa temporada, na pele de um corredor novato. No jogo, Ayrton Senna é o piloto da “Madonna”, a melhor escuderia do campeonato, e claro, é o oponente a ser vencido. Assim, o jogador começa numa equipe bem modesta e vai construindo a sua carreira, mudando de equipes e veículos até chegar a um nível que possa desafiar o campeão brasileiro.

Ou seja, não era apenas um joguinho de corrida do tipo “acelere e fique na frente dos adversários”, ele tinha toda uma história e mecânicas que o tornavam extremamente divertido e viciante de se jogar, afinal, quem não gostaria de desafiar e ganhar de Senna?

A Sega não tinha licença oficial para utilizar os nomes verdadeiros de outros pilotos, carros e equipes, mas ela acabou sendo criativa e é fácil perceber quem é quem nos apelidos dados, como Nigel Mansell que virou ‘N. Jones’, ou o famoso alemão Michael Schumacher, que recebeu o nome de ‘M. Blume’. Nas equipes temos a já citada ‘Madonna’ sendo a McLaren, ‘Firenze’ para Ferrari, ‘Losel’ para Lotus, ‘Millions’ para Williams e assim por diante. São todas as equipes e corredores baseados em suas contrapartes reais do Campeonato de F1 de 1991.

Além do modo principal de jogo, o World Championship, temos outros dois: Senna GP – com três pistas exclusivas, desenhadas pelo próprio Senna, sendo que uma delas é a reprodução fiel que o piloto tinha em sua chácara na cidade de Tatuí, em São Paulo, lugar onde provavelmente ele devia se reunir com os amigos para um churrasquinho e beber aquela gelada, e nas horas vagas, dar uma corridinha ali na pista.

O outro modo é o tradicional Free Practice, usado para treinar suas habilidades sem valer pontos. É possível escolher o número de voltas, posição de largada e até o tempo, chuvoso ou não, além de conferir descrições e dicas de cada uma das pistas feitas pelo próprio Senna. E com uma manha, é possível correr numa moto do jogo Super Hang-O no meio dos carros, doidera pura!

O Campeonato Mundial possui dois níveis de dificuldade: o Beginner, em que o jogador começa com um carro razoavelmente melhor do que os rivais, o que deixa a tarefa de chegar em primeiro lugar bem mais fácil.

Já o modo Master apresenta um maior nível de dificuldade, onde o jogador começa lá de baixo e tem que mostrar garra, e braço, pra vencer as disputas. São cinco equipes, você começa na C (a segunda pior) na equipe “Serga” e pode chegar até a S, ocupada apenas por Senna. Você coloca o seu nome e escolhe a nacionalidade, o carro com câmbio automático, com quatro ou sete marchas, em corridas com seis voltas no total, cada uma.

No começo de cada corrida o jogador deve escolher um rival para competir. Ao vencê-los algumas vezes seguidamente – varia de duas a quatro vezes, dependendo se você bater nos carros rivais e da pontuação do piloto rival – é possível ganhar o seu carro e sua equipe, e assim ir melhorando de carreira. Mas fique esperto, o contrário também pode acontecer, você pode ser desafiado, e se perder, bye-bye super-máquina.

Tomar o lugar de Senna é possível, mas é uma longa e difícil tarefa que apenas jogadores mais habilidosos conseguirão. SMGPII é um jogo bastante longo e difícil, tanto que ele possui bateria interna para salvar o progresso de sua árdua e promissora carreira automobilística.

Voando a mais de 300 Km/h

A Sega se empenhou e melhorou os gráficos e visuais em comparação ao game anterior, com um nível de detalhamento maior nas pistas e nos cenários ao fundo, sendo que em algumas era possível chover. Os carros estão bem feitos, com algumas animações de faíscas e fumaça quando há colisões. É possível ver as mãos de seu piloto no voltante, em um visual muito bacana e que para a época era uma imersão incrível. Algo muito legal são as muitas imagens digitalizadas de Senna, que são mostradas entre uma corrida e outra até o final, dando um toque todo especial e personalizado para o game.

A sensação de velocidade é sensacional, você pode “sentir” o carro acelerando e até dar aquele “friozinho” na barriga quando se chega nas curvas. A sensação de atravessar, a mais de 300 Km/h, o famoso túnel no circuito de Mônaco é indescritível.

Mas lembre-se, não adianta só enfiar o pé no acelerador, é fundamental saber usar o freio e trocar de marcha nas horas certas, senão certamente seu carro vai se esborrachar na mureta. Desviar dos carros rivais também é importante, pois uma batidinha neles e você é jogado lá para atrás, e para conseguir sua posição de volta só depois de muito suor.

Felizmente os comandos respondem perfeitamente, e o jogador não terá problemas, ao menos na jogabilidade, de se tornar um grande corredor – o resto vai depender da sua habilidade e reflexos. Na tela temos informações importantes, como a velocidade, marchas, posição (sua e do rival), tempo, número de voltas, um mapinha da pista e o seu melhor amigo, o espelho retrovisor.

Como já era de se esperar, o jogo não possui trilha sonora, mas alguns temas que tocam entre os intervalos. Durante as corridas escutamos apenas o som dos motores, troca de marchas, derrapagens (que no anterior era bem chatinho, mas aqui está mais audível), freios e sons abafados dentro de túneis.

Os sons estão muito bons e ajudam na imersão do jogo. As vezes a concentração é tanta, que realmente parece que estamos dentro de uma corrida. Como já dito, a Sega pretendia colocar frases de Senna, mas como não foi possível, mas podemos ouvir algumas palavrinhas curtas do próprio como “Go!”, “Final Lap” e “Congratulations!”. O jogo teve versões para Master System e Game Gear, e reza a lenda que, após vencer 10 campeonatos, era possível ver o verdadeiro final do jogo.

E para encerrar com chave de ouro esta matéria, uma frase do campeão sobre o game:

Eu tentei passar para o jogo a emoção de uma corrida: o desafio de competir, vencer, ser o número 1 e se divertir ao mesmo tempo” – Ayrton Senna.

Curiosidade – Senna e o Troféu do Sonic

Você já deve ter visto por aí a imagem de Senna levantando um troféu com a imagem do Sonic (caso contrário aí está ela), mas sabe a história por trás dela? Em 1993 a Sega era uma das grandes empresas patrocinadoras de F1, em especial a então “imbatível” equipe Williams, composta pela dupla de pilotos, o inglês Damon Hill e o tricampeão francês Alain Prost (que usavam macacão azul, luvas brancas e sapatos vermelhos, em referência às cores do Sonic).

E claro, nada mais compreensível do que usar a imagem de Sonic como garoto propaganda do automobilismo. No entanto, nem mesmo o ouriço supersônico amedrontou Senna, que corria pela McLaren e fez uma de suas mais memoráveis performances no dia 11 de abril de 1993 no GP da Europa, disputado em Donington Park, na Inglaterra, ganhando assim o famoso Troféu do Sonic (customizado pela Sega para fins promocionais e que esperava vitória da Williams – logo após erguer o Troféu Sonic, Ayrton recebeu o troféu de “verdade”) e imortalizando essa imagem épica acima. Na corrida seguinte, a McLaren (ou o próprio Senna) estampou na lataria dos seu carro um pequeno decalque de um ouriço sendo atropelado, uma leve “alfinetada” na equipe rival que tinha o personagem como mascote (confira na imagem abaixo).