Já são quase 30 anos de estrada que a Tectoy atua no mercado brasileiro, e toda essa história é marcada por grandes profissionais que ajudaram a fazer da empresa a marca reconhecida que é hoje.

Firmar uma parceria com a Sega para distribuir o seus produtos no Brasil (a maior e bem sucedida parceria que a indústria brasileira teve até hoje) foi o primeiro passo. O segundo foi conquistar a sua confiança e respeito, através de muito trabalho duro e de qualidade.

E foi graças a esse trabalho conjunto da Sega e Tectoy que milhões de brasileiros puderam desfrutar dos produtos da empresa japonesa de maneira oficial e com qualidade de maneira inédita, sendo que o Master System e o Mega Drive foram os mais marcantes, sem dúvida nenhuma.

E para relembrar esse período inesquecível, trazemos para vocês uma entrevista especial com Andrea Bedricovetchi que atuou na área e marketing da Tectoy em 1989 e durante os anos 90.

Venha conosco e viaje no tempo através das lembranças da Andrea e seu período na Tectoy!

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Olá Andrea, faça sua apresentação para os nossos leitores.

Olá, meu nome é Andrea Bedricovetchi, tenho 49 anos. Sou formada em Administração de Empresas pela FGV e atuei por quase 30 anos em empresas nacionais e multinacionais, começando na área de marketing (Nestlé, Tectoy, Parmalat, Blockbuster) e em posições de Presidência (LevelUp, Swarovski e Sephora).

Como você começou a trabalhar na Tectoy e quais eram as suas expectativas do trabalho na época?

Estava terminando a graduação na GV e soube que havia uma empresa nova que estava procurando pessoas para a área de marketing. Já tinha estagiado na Nestlé e queria um desafio diferente, uma empresa onde pudesse participar mais ativamente de forma transformadora.

Você trabalhava no setor de marketing da empresa durante os anos 90, uma época totalmente diferente da atual globalização, quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou?

Sim, comecei em 89 como Assistente de Produto, e meu primeiro projeto foi o lançamento do Master System. Foi uma época fantástica com muitas oportunidades para uma empresa jovem e que trazia um conceito totalmente diferente de produtos e com uma estratégia de marketing agressiva e inovadora. Foram centenas de campanhas com formato e conteúdo totalmente inovador para a época. Chegamos a ter programas diários com dicas (Master Dicas e Sega Dicas) na TV, criamos um Clube que tinha milhares de membros (na época a comunicação era por carta) e fizemos promoções e parcerias que deixaram marca!

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Phantasy Star do Master System tinha uma propaganda que realmente chamava a atenção de quem a olhava, e que tinha escrito “este jogo tem 3 meses de duração, legendas em português e um vilão que acha que você não é de nada“. Como foi que ela surgiu? Aliás, como surgiu a ideia de lançar um jogo em português?

A ideia das propagandas era sempre a de desafiar e provocar o consumidor. No caso do Phantasy Star nada mais natural do que o desafio do próprio jogo.

Era nossa estratégia proporcionar um mínimo de conteúdo local. Como não era possível pelo tamanho do mercado desenvolver jogos “from scratch”, a solução era traduzir ou adaptar alguns jogos. O trabalho era intenso e o investimento alto, mas valia a pena pois reforçava nosso vínculo com o consumidor. Com certeza foi uma estratégia vencedora que se traduzia no valor que a marca tinha/tem no país!

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Você chegou a ter algum contato com o pessoal da Sega?

Sim, ao longo dos 10 anos em que atuei, tinha contato diário com a Sega do Japão, com relacionamento com Sega da América e Europa também. Com o pessoal do Japão falava diariamente, sobre os lançamentos, os projetos, o negócio.

O setor de marketing da Tectoy era um dos melhores do país durante os anos 80/90. Como era cuidar dessa estrutura? Vocês tinham apoio da Sega ou tinham que se virar sozinhos?

Montamos uma estrutura de pessoas jovens, recém saídas da faculdade, que compartilhavam os mesmos valores e tinham a mesma energia. Não tínhamos apoio da Sega, tínhamos total liberdade na gestão da área. Era intenso, o dia tinha muitas horas mas era gratificante, e essa equipe hoje ocupa lugar de destaque em várias empresas. A Tectoy além de tudo foi escola para grandes profissionais.

Com quais produtos da Tectoy você trabalhou?

Com todos! Lancei todos os consoles e cartuchos, do Master ao Saturn, passando pelo Game Gear e Master System Girl. Eu era responsável pela área de games, portanto atuava diretamente com esta linha, bem como com os jogos para PC que lançamos e toda a linha de acessórios.

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Como foi feito o planejamento do lançamento do Mega Drive?

Depois do enorme sucesso do Master System, tínhamos que criar algo muito inovador para o Mega Drive.  Investimos muito no lançamento e na plataforma, com muitas  campanhas, ações com a imprensa, promoções e envolvimento do público. Ousamos e tivemos uma campanha absolutamente inédita no país.

Não havia internet, mas surgiram as revistas especializadas, a mídia tradicional passou a dar espaço para a categoria que revolucionou o mercado de entretenimento, além de divulgação em rádio e TV. Os pontos de venda também foram ocupados de forma nunca vista na época, com os jogos e personagens, trazendo interatividade e modernidade ao mercado.

Seguíamos o calendário dos lançamentos da Sega, mas um novo produto era sempre um desafio enorme, pois os produtos não eram importados, eram fabricados localmente e isso exigia um grande trabalho de desenvolvimento e de convencimento. O Brasil tinha que mostrar que era um mercado importante e que valiam os esforços da Sega no país. Com o tempo fomos conquistando esse espaço e conseguimos até alguns lançamentos mundiais simultâneos (Mortal Kombat por exemplo), o que era grande motivo de orgulho para nós. (Em função do fuso, chegamos a lançar jogos antes mesmo que os Estados Unidos!!).

Como você lidava com a pirataria? E com os concorrentes? Os clones da Nintendo eram uma preocupação?

Pirataria era uma grande preocupação, a concorrência tornava o mercado mais desafiador. Os clones obviamente prejudicavam o mercado em função do seu preço e oferta.

Quando a Playtronic virou a representante da Nintendo no Brasil, o que mudou?

O mercado ficou mais ativo, mais dinâmico, mas a Sega já estava bem à frente, e graças à Tectoy era líder no mercado Brasileiro.

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Você jogava os games/videogames ou não sobrava tempo? E atualmente, ainda joga ou acompanha o cenário de videogames?

Jogava todos, recebia as amostras da Sega para testar e decidir sobre a compra, assim como participava de todas as feiras e eventos mundiais de videogame.

Depois da Tectoy fui responsável pela empresa de jogos online, LevelUp, e na época voltei a jogar e acompanhar o mercado. Hoje em dia não jogo mais!

Alguma história interessante ou curiosidade daquela época que gostaria de compartilhar?

Há várias…. uma delas foi o lançamento do jogo do Ayrton Senna. Foi incrível fazer parte deste projeto, e entre a técnica e extrema preocupação com qualidade de ambos, chegamos a um produto final sensacional que se tornou sucesso mundial.

Falando em jogos locais, que era uma estratégia importante que tínhamos na época, outra experiência muito gratificante foi com Maurício de Souza, no desenvolvimento dos jogos da Mônica.

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Como você citou, os jogos do Ayrton Senna e Turma da Mônica foram grandes sucessos no Brasil. Poderia falar deles mais detalhadamente? Como surgiu a ideia, como foi feito a elaboração de Marketing, o envolvimento da Sega/Maurício e a recepção do público?

A ideia era levar grandes heróis nacionais para o universo da Sega. Fazíamos um plano detalhado do lançamento e os projetos, após aprovados, eram feitos em conjunto (Tectoy, personalidade/artista e Sega).

No caso do Ayrton Senna, houve um envolvimento muito grande da Sega que literalmente parou quando o Senna foi ao Japão testar o jogo e fazer o lançamento. Foi inesquecível.

Para encerrar, quais são suas melhores lembranças daquela época?

Foi uma época espetacular, um privilégio ter trabalhado por tanto tempo numa empresa de pessoas brilhantes (Stefano Arnhold e Daniel Dazcal), que fundaram uma empresa extremamente profissional, correta, ética, que valorizava as pessoas e tinha foco em resultado. Apesar da tenra idade (comecei com 21 anos), tinha muita responsabilidade e me sinto parte deste projeto maravilhoso. Foram anos incríveis!!!