Muitos devem se lembrar das aventuras futuristas de J.J., Champ e Apple, o trio protagonista do anime Zillion, criado pela Sega em parceria com a Tatsunoko Production e lançado em 1987 no Japão – e que chegou ao Brasil com uma ajudinha da Tectoy.

Os planos da Sega com o anime eram de auxiliar na divulgação do brinquedo Pistola Laser Tag, lançada nos anos 80, assim como a pistola do Master System, a Light Phaser (que chegou ao mercado pela primeira vez em 1986, junto com o lançamento do console nos EUA), que serviu de inspiração para os designs das futuristas pistolas Zillion, utilizadas pelos três personagens principais da série.

o primeiro modelo da Pistola Laser Tag ao lado da Light Phaser do Master System

Aqui no Brasil, o anime e o Master System chegaram quase que simultaneamente, sendo que Zillion se tornou febre no final dos anos 80 e início dos 90, e as pistolas usadas pelos heróis do desenho eram sonho de consumo da molecada. A Light Phaser, que era a pistola que acompanhava o videogame, possibilitava realizar esse desejo.

Além disso, dois games baseados no anime foram lançados no Master System, sendo o primeiro deles o centro das atenções do nosso post hoje.

os três protagonistas do anime: Champ, J.J. e Apple

Do anime para o Master System

Lançado apenas algumas semanas após a estreia do anime em 1987, o game Zillion era a resposta da Sega para Metroid, lançado em 1986 no rival Nintendinho e que alcançou um grande sucesso mundial, ao apresentar estruturas de fases não lineares criativas e desafiadoras.

Como a Sega não podia ter Metroid em seu sistema, então resolveu criar o seu próprio filho, também apostando no sucesso do anime. Caso não conheça a animação, segue um resumo do seu plot:

A história se passa no ano de 2387 no planeta Maris, uma colônia humana considerada como uma segunda Terra, que está em guerra contra os alienígenas Nozas e que são tecnologicamente mais avançados e mortais, sendo que nenhuma arma construída pelo homem parece ser capaz de derrotá-los. Mas quando tudo parecia perdido, surgem misteriosamente três pistolas muito poderosas que conseguem derrotar os invasores, que foram chamadas de Light Phaser Zillion.

Assim uma organização secreta de nome White Knights (White Nuts no original) fica responsável pela seguranças e uso das pistolas, procurando pelos melhores atiradores do planeta. Muito mais do que as pistolas, o anime se destaca pelos caricatos personagens. E dentre os três, o que mais chama atenção é com certeza o J.J., garotão malandro, safado, preguiçoso, um aloprado total que sempre arruma confusão.

Também temos o Champ, cara metido a bonzão (e as vezes era mesmo) cujo hobby era fazer tricô (?!) e a bela Apple, gatinha que J.J. vive dando em cima e que completa o time. Somente eles, utilizando as pistolas Zillion, são capazes de derrotar o império Noza e salvar a humanidade.

sua missão: encontrar disquetes perdidos!

Começando a aventura

Certamente jogar o game é bem mais prazeroso se você já conhece o anime. Temos aqui uma aventura espacial futurística, com ação de plataforma 2D não linear, onde o jogador explora bases subterrâneas, ganha mais poder de fogo para sua arma, resolve puzzles e acessa novas áreas. Parece familiar? Se você já jogou algum Metroid na vida, certamente vai reconhecer esses padrões.

Mas além do clássico do NES, o jogo possui fortes influências de outro título ainda mais antigo: “Impossible Mission”, lançado para Commodore 64 em 1984. Nele é possível controlar um agente secreto que acessa terminais de computadores para abrir portas, desligar dispositivos e acessar novas áreas, sistema esse também utilizado em Zillion (porém o personagem de IM não usa armas e tudo que pode fazer é desviar dos inimigos/obstáculos).

capa do jogo lançado no Brasil

Assim, Zillion é uma mistura desses dois jogos, resultando em um produto de qualidade muito boa. Ele possui uma história bem simples, inspirada no anime: Os White Knights, uma força pacificadora dentro do Sistema Planetário, estão em missão para destruir a base do maléfico Império Noza no Planeta X. Para fazer isso, J.J., o personagem principal, precisa se infiltrar na base e adquirir cinco DISQUETES (lembram deles?) que o permitirão inserir a sequência de autodestruição no computador central.

O jogo começa com sua nave aterrizando na superfície do planeta, e assim J.J. precisa abrir caminho pelo labirinto subterrâneo lutando contra inimigos, evitando perigos e resgatando seus dois companheiros capturados, Champ e Apple, para então destruir a base.

aqui é onde começa a sua aventura

Percorrendo labirintos complexos

O jogador começa controlando J.J., do lado de fora da nave mãe na superfície do Planeta X, com a missão de adentrar na base subterrânea dos Noza, um labirinto que vai se complicando na medida em que se avança. Assim como Metroid, cada área é uma “sala” fechada contendo terminais com senhas, cartões de acesso, itens de atualização para sua arma e recarga de energia. Para entrar e sair nas salas da base é necessário destravá-las usando os cartões e inserindo códigos de quatro dígitos corretamente (de uma lista de dez). Com esses códigos é possível realizar outras ações, como desligar barreiras, desativar armadilhas ou até mesmo cometer suicídio. Alguns dos obstáculos da missão envolvem minas terrestres, guardas inimigos, canhões laser e campos de força.

acesse os terminais para pegar os códigos, itens e power-ups

J.J. usa como arma a sua famosa pistola (a mesma do Master System), e enquanto o jogo progride, é possível deixá-la mais poderosa, e assim arrebentar obstáculos mais resistentes. Quando resgatados, podemos jogar com Apple ou Champ, cada um com suas próprias diferenças; Apple é rápida e salta mais alto, porém é mais fraca; e Champ é mais lento, mas bem forte. Assim como J.J., eles também podem subir de níveis e evoluir suas estatísticas: poder de fogo, velocidade, habilidade de salto e energia.

os complexos códigos eram representados por ícones

O jogo não é difícil, porém é para poucos, porque ele é bastante longo e complexo. Começa fácil, mas os labirintos vão ficando maiores e confusos, é um sobe e desce de elevador e entra e sai de salas do início ao fim. Não há sistema de mapas, o que deixa a coisa ainda mais complicada.

Apesar de os mapas e códigos hoje em dia estarem disponíveis na internet, caso você queira ter uma experiência do game bem “raiz” mesmo, sugerimos desenhar em folhas de papel os mapas e os malditos códigos, para sentir o mesmo grau de dificuldade de quem jogou na época. A parte final do jogo, inclusive, envolve fugir um de um labirinto e enfrentar um monstrão, antes que a contagem regressiva chegue a zero e mande tudo para os ares.

tela de estatísticas dos personagens, que podem ser evoluídos

Outra coisa que complica bastante é que o jogo não possui sistema de password ou de save. Ele inteiro é uma única gigantesca fase para ser terminada numa jogada! Só para jogadores nível hardcore.

Os gráficos são bem modestos, os cenários de fundo são no geral azuis (temos algumas salas vermelhas e cinzas) e o design dos personagens não são lá muito bonitos (são meio desengonçados na verdade). Mas eles funcionam bem na tela e atendem aos propósitos visuais, e o mais importante, respondem rápido aos comandos, coisa imprescindível aqui, pois há muitos pulos, tiros e desvios a serem feitos.

elevadores estão em toda parte e é bem fácil se perder

A trilha sonora é muito bem composta, com assinatura do lendário “Bo“, compositor da Sega que fez trabalhos genias no Master System e Mega Drive, entre os quais podemos destacar “Alex Kidd in Miracle World“, “Phantasy Star“, “Castle of Illusion“, “QuackShot” e ainda deu uma ajudinha para Yuzo Koshiro nos clássicos “The Revenge of Shinobi” e “Streets of Rage“, entre vários outros.

Apesar de tecnicamente boa, infelizmente a trilha sonora de Zillion não é muito variada, com uns três ou quatro temas apenas – todos baseados nas canções do anime, Break a Trap for Yourself e Push, caso esteja curioso. A música tema do anime, Pure Stone, toca na abertura do jogo, e em algumas áreas, e certamente é uma das mais belas composições que você pode ouvir em toda a sua glória 8 Bits logo abaixo:

O jogo teve uma sequência, conhecida como “Zillion II: The Tri-Formation Cycle”, mas apesar de gráficos mais elaborados, teve sua jogabilidade “metroidvania” totalmente alterada, sendo mais agora um jogo de plataforma e tiro 2D normal. Infelizmente a franquia morreu nos anos 90, mas ao menos temos como legado da Sega o fabuloso anime, que fortemente recomendamos que você assista se curte animação japonesa, e os belíssimos games – que mereciam um remake da Sega para consoles atuais, sem dúvida nenhuma!

Curiosidades

Algumas curiosidades envolvendo Zillion:

  • O personagem Opa-Opa, uma simpática navezinha senciente (uma criatura viva) dos games Fantasy Zone, aparece em vários episódios como a mascote da White Knights;

  • Em um dos episódios, J.J. aparece jogando em um Master System.